Marx viu o ‘direito de herança’ como uma ameaça ao
comunismo, pois perpetua o papel de família tradicional. Então como uma
sociedade sem classes pode garantir a igualdade de ganhos, quando algumas
pessoas ao nascimento recebem, injustamente, mais bens de seus pais do que
outras?
Isso é irônico, dado que Marx usou e viveu da herança de
Engels, que subsidiou seu trabalho, sua vida e da sua família, especialmente
depois que Marx sugou o máximo de dinheiro possível de seus próprios pais, que
ficaram muito amargurados com a forma como ele os explorava. A relação de Marx
com seus pais foi claramente parasitária. A mãe de Marx expressou abertamente o
desejo de que Karl parasse de escrever sobre o capital e começasse a trabalhar
para sustentar ele e sua família. No entanto, em sua obra Marx recomendou abolir
todo o direito de herança. Se isso acontecesse na época em que viveu, ele não
teria conseguido sobreviver, pois não trabalhava e viveu a custas da herança da
família de Engels.
É claro que a herança era sobre a ‘propriedade privada’, que
Marx e Engels desprezavam. Na verdade, o objetivo central do "The
Communist Manifesto" é exatamente isso. Assim a teoria comunista pode ser
resumida em uma única frase: “abolição da propriedade privada".
O ponto nove no plano de dez pontos de Marx e Engels determina:
"abolição gradual de toda a distinção entre cidade e país por uma
distribuição mais equitativa da população sobre o país". Assim as famílias
foram, obviamente, dolorosamente afetadas. Nos regimes comunistas em nações
como o Camboja, esta "abolição gradual" assumiu a forma de migrações em
massa, realizadas durante a noite, forçadas pelos canos dos rifles automáticos,
uma ação doentia e drástica que foi retratada vividamente no filme de 1984
"The Killing Fields"(1).
Separar as crianças dos pais... Leonid Sabsovich(2), por
exemplo, levou esse conselho aos extremos, principal planejador urbano
soviético nos governos de Lênin e Stalin, em uma série de documentos publicados
pelo Kremlin no final da década de 1920, Sabsovich defendeu uma separação total
das crianças dos pais logo nos primeiros anos do desenvolvimento infantil.
Sabsovich perseguiu aqueles que dele discordaram. Sabsovich fundamentava sua
sugestão de separação completa entre pais e filhos, afirmando que os pais naturalmente
criariam seus filhos sob conceitos indesejáveis, cretinos, não progressistas e "cheios
de preconceitos", que formariam pequenos burgueses, "nada inteligentes".
Sabsovich acreditava e afirmou que as crianças deveriam ser,
e eram, uma propriedade do Estado, em vez da família, então o Estado tinha o
direito de obrigar os pais a encaminhar seus filhos para as "cidades
infantis", especialmente concebidas para realizarem a educação dessas
crianças. Essas cidades precisavam ser construídas "bem distantes da
família". Tais propostas extremas de extinção das famílias, desse
comunista urbano seriam incorporadas em seus planos para criar a "cidade
socialista" ideal.
Ele era fanático... Comportamento inteiramente apropriado a
um esquerdista convicto, assim, ele defendeu o poder absoluto do estado para
afastar todos os que estavam atrapalhando o caminho da revolução.
Finalmente, vejamos o ponto dez do grande plano de Marx e
Engels: Eles queriam "educação gratuita" para cada criança em
"escolas públicas" geridas e controladas pelos comitês do partido. A
família deixaria de existir como a "correlação sagrada de pais e
filhos", pois o "amálgama burguês sobre a família e a educação".
Marx afirmou: "A revolução comunista é a ruptura mais radical com as
relações tradicionais; não é de admirar que o seu incremento envolva a ruptura
mais radical com as ideias tradicionais." Sim, realmente, não devemos admirar
que um dos principais ‘alvos’ de ruptura com relações e ideias tradicionais,
seja a família.
Entre essas ideias, o epicentro, era naturalmente, a tradicional
família bíblica e o casamento, que só naquele momento, dois milénios depois,
estava sendo redefinida e, talvez, extinta em sua forma tradicional.
O que os comunistas nunca pensaram, é que essa ruptura mais
radical das relações familiares tradicionais - tão radical que Marx e Engels
ficariam estupefatos com o mero pensamento – estaria um dia acontecendo no
Ocidente. Os países da extinta União Soviética, foram capazes de resistir a
ideologia comunista e tão logo foi demolida a ‘cortina de ferro’, voltaram as
velhas e tradicionais organizações familiares, como base de seus tecidos
sociais.
Mas, hoje quem está quebrando completamente as longas
tradições da história humana, não são mais os pioneiros do ataque a família
tradicional, e sim os países ocidentais, que agem como se não fosse um grande
problema a desintegração da família tradicional. Hoje os países capitalistas não
abraçam mais o conceito de família tradicionalmente arraigado a fé
judaico-cristã, pelo contrário, estão hoje incentivando a formação de famílias disfuncionais,
poligâmicas ou do casamento de pessoas do mesmo sexo, e ainda acusam aqueles que
são contra o casamento gay de ‘extremistas’ e, é claro, são apontadas como ‘detentoras
de ódio discriminatório’.
Este é um momento especialmente excitante para os comunistas
extremos. O que eles não conseguiram no mundo ex-comunista da extinta URSS, que
tão logo foi possível abandonaram essa ideologia destruidora, estão vendo
acontecer no Ocidente. Eles não têm dúvidas do seu vertiginoso e inesperado
sucesso na destruição da família e, ainda melhor, entre seus tradicionais adversários.
Eles estão vendo estupefatos acontecer nos países capitalistas uma mudança
radical e inesperada na cultura dominante, que está realmente transformando a
natureza humana. E isso está acontecendo com o apoio involuntário de uma grande
quantidade de ‘cidadãos inconscientes e/ou inconsequentes’, e de elementos
mal-intencionados que agem em benefício próprio ou interesses escusos. E já faz
algum tempo.
Eduardo G. Souza
.
(1) OS
GRITOS DO SILÊNCIO ‧ 1984 ‧
Drama/Ficção histórica ‧ O filme relata a versão do
jornalista americano Sidney Schanberg sobre a Guerra do Camboja e sua amizade
com um intérprete local. Com a cobertura da tomada de Phnom Penh, ele ganha o
Pulitzer e volta ao Oriente em busca do amigo. Trailer no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=56_Su32Tp5A
(2) Leonid
M. Sabsovich foi um planejador urbano e economista, famoso por suas propostas
urbanistas durante os anos 1929-30 na União Soviética (URSS), levando-o a ser
considerado um líder do urbanismo na União Soviética. Sabsovich delineou uma
visão urbanística para a União Soviética, estabelecendo que todas as cidades e
aldeias seriam substituídas por cidades com aproximadamente 25 a 50 unidades
residenciais ao longo de um período de dez anos. Essas unidades de habitação
urbanas acolheriam entre 1400 a 2000 pessoas em comunidade, proporcionando
facilidades comunais para facilitar o desenvolvimento da ideologia comunista. O
único espaço de vida privado seriam pequenas cabines de dormir. Ele imaginava
as cidades como um "condensador social" que estariam bem equipadas
para incutir nas pessoas atitudes e valores comunitários, que o novo mundo
comunista exigia.
Bibliografia recomendada:
Edwards,
Lee. “The Conservative Revolution: The Movement that Remade America”. Free
Press. 1999.
Kengor, Paul. “Dupes: How America’s Adversaries Have Manipulated Progressives for a
Century”. Intercollegiate Studies Institute. 2010.
Kengor,
Paul. “The Communist: Frank Marshall Davis: The Untold Story of Barack Obama's
Mentor”. Threshold Editions/Mercury Ink. 2012.
Kengor,
Paul. “Takedown: From Communists to Progressives, How the Left Has Sabotaged
Family and Marriage”. WND Books. 2015.
Kirk, Russell. “A Mentalidade Conservadora”. É Realizações
Editora. 2012.
Marx, Karl & Engels, Friedrich. “Manifesto Comunista”.
Boitempo Editorial. 2015.
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