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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

domingo, 19 de novembro de 2017

COMUNISMO E CORRUPÇÃO



Os tanques soviéticos invadem Budapeste e Praga. Os bancos russos criam contas secretas e empresas de estatais sombrias, invisivelmente compram influência e engolem ativos estratégicos em toda a Europa.
Colaboradores no Oriente e outros acólitos levam ao Ocidente o pensamento leninista.
Lobbies empresariais e industriais introduzem nas negociações e divulgam de leste a oeste, o sucesso soviético.
Uma rede de partidos comunistas e grupos de esquerda propalam o sucesso do comunismo e cuidam dos interesses de Moscou.
Uma rede de corporações obscuras, negócios com energia e complexos esquemas de lavagem de dinheiro atraem as elites estrangeiras e formam um lobby poderoso no Kremlin.
Isso foi o passado, conheça o presente.
De muitas formas, a corrupção russa é o novo comunismo soviético. O dinheiro sujo do Kremlin é a nova ameaça vermelha.
No Oriente, a aliança de estados satélites, com economias sob o comando socialista no estilo soviético e os sistemas políticos autoritários, foi substituída por um aglomerado de cleptocracias, com características econômicas do capitalismo russo e governança disfuncional.
E as tentativas da União Soviética de subverter o Ocidente pelo poder do pensamento marxista-leninista, deram lugar à Rússia de Vladimir Putin buscando corrompê-lo com a isca do dinheiro fácil.
Quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam iguais.
"O Kremlin não precisa ser o líder absoluto de um bloco de nações e do Pacto de Varsóvia, mas pode exacerbar as divisões existentes, subverter as instituições internacionais e ajudar a criar um mundo onde sua forma de autoritarismo corrupto floresça", Peter Pomerantsev(1) e Michael Weiss(2) escreveram em um artigo amplamente divulgado.
Hoje a ameaça real do Kremlin usa as armas da informação, da cultura e do dinheiro.
A União Soviética procurou espalhar o comunismo e estabelecer um bloco de nações leais a Moscou. A Rússia de Vladimir Putin procura espalhar seu modelo de negócios corruptos para estabelecer um bloco de nações dependentes do Kremlin.
A União Soviética estava principalmente preocupada com o seu quintal próximo, a Europa Oriental, mas também procurou espalhar seu modelo socialista pelo mundo. A Rússia de Putin também está se concentrando em seu quintal, a ex-URSS, mas também está empurrando a cleptocracia pelo mundo.
Hoje utiliza empresas de energia com estruturas de propriedade obscuras como as empresas RosUkrEnergo(3), Eural TransGas Kft(4) e MoldovaGaz JSC(5) para fisgar e controlar elites em estados anteriormente soviéticos, como Ucrânia, Bielorrússia e Moldávia.
Mais e o futuro... O Kremlin está criando empresas de mineração e outras atividades com a estrutura da Vemex(6), uma empresa de comércio de energia com uma estrutura de poder e uma organização indecifrável, que possibilitou que a Gazprom, controlar entre 10 a 12% do mercado de energia checa.
O Kremlin realmente dominou a arte de fazer acordos corruptos para criar relações cliente-cliente além das fronteiras russas.
"A Gazprom, com o apoio silencioso do Kremlin, criou cerca de 50 empresas intermediárias, soturnamente ligadas à Gazprom e espalhadas por toda a Europa", disse o analista Roman Kupchinsky(7), ex-diretor do Serviço Ucraniano da Radio Free Europe/Radio Liberty, em testemunho perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA em junho de 2008.
Kupchinsky citou também o grupo Centrex, com sede em Viena, de propriedade de uma empresa Holding de Chipre e da RN Privatstiftung na Áustria, bem como da rede Gazprom Germânica. Tais empresas, acrescentou, "não agregam nenhum valor ao preço do gás russo vendido nos mercados europeus, mas eles ganham enormes somas de dinheiro que parece simplesmente desaparecer através de empresas em Chipre e no Liechtenstein". Kupchinsky também disse ao comitê que "na Hungria, as empresas de fachada com suspeitas de vínculos com o crime organizado e a Gazprom procuram controlar grandes segmentos da distribuição doméstica de gás e da geração de energia".
Há também provas de que Putin recrutou alguns membros da antiga rede de inteligência “Stasi” (a temida polícia política do regime comunista alemão) do leste da Alemanha, para criar empresas de fachada em toda a Europa.
Um artigo investigativo de setembro de 2007 do jornalista alemão Hans-Martin Tillack(8) descobriu que a Gazprom Germânia era "uma organização de ex-membros dos serviços de segurança do leste da Alemanha".
"Esta é a história de uma invasão. Uma empreitada maciça, planejada com bastante antecedência. O Estado-Maior está localizado muito distante no Leste, em Moscou, a capital da Rússia. A área-alvo é a Alemanha e o resto da Europa Ocidental". Escreveu Tillack.
"A história desta invasão está repleta de ex-oficiais da Stasi e outras figuras sombrias. É uma história de empresas de fachada, que não possuem uma sede física, e nem sequer têm uma caixa postal, são empresas que só existem nos papeis aninhadas dentro de outras empresas. A impressão primordial é que eles estão escondendo o fluxo de fundos e capitais."
Mas é uma invasão que muitas elites no Ocidente estão querendo ou, inconscientes, participando.
"A conquista da corrupção russa, com fundos ilícitos regularmente lavados em todo o Ocidente, trabalha para o domínio do Kremlin tanto nacional como internacionalmente", escreveu Pomerantsev e Weiss.
"Se a premissa da ideia neoliberal da globalização é que o dinheiro é politicamente neutro, a ausência essa interdependência será um impulso para a aproximação, e o comércio internacional sublimará a violência em harmonia, a visão russa permanece na visão mercantilista, com dinheiro e comércio sendo usados ​​como armas e interdependência a um mecanismo da agressão".
O comunismo, apesar de suas falhas, tentou atrair ideais e aspirações humanas universais. Mas na prática, agiu contra a natureza humana.
A corrupção apela ao instinto humano mais universal e mais básico – ‘a ganância’. E, infelizmente, muitas vezes está em sincronia com a natureza humana - o que torna a nova forma de dominação potencialmente mais perigosa e insidiosa do que a antiga.
A corrupção não é apenas uma questão moral, ética, política, policial e jurídica. Agora é um problema de segurança nacional e precisa ser tratada como tal. 
Em nosso país, apesar da pouca ação direta da corrupção russa, não podemos negar, que os antigos comunistas, que tentaram impor o regime comunista pela força das armas, e foram derrotados pelas forças armadas, hoje são a principal força da corrupção que assola o país.
O exemplo da ação comunista na demolição social, através dos costumes, da cultura e da política está sendo aplicado sem sombra de dúvidas em nossa sociedade.
É verdade que grande parte dos corruptos está usando a corrupção como forma de enriquecimento ilícito, mas, por trás, dessa rede de corrupção em benefício próprio, podemos sentir oculta uma ação de destruição dos princípios que sustentam uma nação. E quando o povo, não suportar mais o ‘status quo’, qualquer possibilidade de mudança, de pôr um fim no caos, será aceita, mesmo que seja a implantação de um regime comunista de exceção!
Eduardo G. Souza

(1)  Peter Pomerantsev nasceu em 1977, em Kiev, na Ucrânia. Em 1978 mudou-se com seus pais para a Alemanha Ocidental, depois que seu pai, o radialista e poeta Igor Pomerantsev foi preso pela KGB, acusado de divulgar literatura antissoviética. Mais tarde, foi para Munique e depois Londres, onde seu pai, Igor Pomerantsev, trabalhou para o BBC World Service. A mãe de Pomerantsev, Liana Pomerantsev, é cineasta e seu documentário “Gulag”, ganhou o prêmio Grierson Award, do Best British Documentary. Pomerantsev frequentou a Westminster School, em Londres, a European School e estudou literatura inglesa e alemão na Universidade de Edimburgo. Ele participou dos Cursos Superiores para escritores de roteiros e diretores de filmes em Moscou. Após a universidade, ele se mudou para a Rússia em 2001. Pomerantsev viveu entre 2001 e 2010 em Moscou trabalhando na TV, em programas transmitidos no canal de entretenimento russo TNT. Em 2014, no seu artigo: "Inside the Kremlin's Hall of Mirrors” (leia em: https://www.theguardian.com/news/2015/apr/09/kremlin-hall-of-mirrors-military-information-psychology),  Pomerantsev explorou como a guerra de informações mudou no século XXI. Ele também contribuiu no estudo “tink tanks” sobre guerra da propaganda e desinformação, e editou uma série de estudos sobre o assunto, incluindo assuntos que vão desde o uso das mídias sociais até a literacia midiática.
(2)  Michael Weiss é um jornalista e escritor americano, nascido na cidade de Nova York, formou-se bacharel em História, em 2002, no Dartmouth College, uma Universidade de pesquisa na cidade de Hanover, New Hampshire. Weiss é editor-chefe da revista on-line “Interpreter”, que traduz e analisa notícias russas, editor sênior do “The Daily Beast” e colunista regular da revista “Foreign Policy”. Em 2015, ele co-escreveu o livro: “Inside the Army of Terror with Hassan Hassan” (Dentro do Exército do Terror com Hassan Hassan). Em novembro de 2014, Weiss publicou um artigo em sua revista on-line, onde ele acusou a Rússia de realizar campanhas de "propaganda e desinformação". O artigo de Weiss incluiu recomendações sobre como enfrentar a propaganda russa, que inclui a criação de um sistema internacional para a desinformação.
(3)  A RosUkrEnergo é uma empresa registrada na Suíça que transporta gás natural do Turquemenistão para países do leste europeu. 50% da empresa é detida pela Gazprom, através da sua subsidiária Rosgas Holding AG, registrada na Suíça, e outros 50% pela empresa privada Centragas Holding AG, registada na Suíça, em nome de um consórcio do Grupo GDF, de propriedade de Dmytro Firtash e Ivan Fursin. A empresa foi criada em julho de 2004 em um acordo do então presidente ucraniano, Leonid Kuchma, com o russo Vladimir Putin para substituir Eural Trans Gas. Em abril de 2006, o monitor de corrupção da Global Witness, com sede em Londres, publicou um relatório focado na RosUkrEnergo e outras empresas que agiram como intermediárias entre o Turquemenistão, a Rússia e a Ucrânia. O relatório destacou muitas ligações entre a RosUkrEnergo e a anterior Eural Trans Gas. Segundo o relatório, o advogado israelense Zeev Gordon havia registrado a Eural Trans Gas em nome do empresário ucraniano Dmytro Firtash. Também no final de abril de 2006, o Izvestia informou que o principal acionista da RosUkrEnergo é Dmytro Firtash. O relatório afirmou que ele detinha 90% da CentraGas Holding, equivalente a 45% da RosUkrEnergo. O relatório afirmou que um outro proprietário é outro empresário ucraniano Ivan Fursin, o principal acionista da Odessa Film Studio e um dos donos do Misto-bank.
(4)  A empresa Eural TransGas Kft. (ETG) é sucessora da Itera que transportava o gás turcomano para a Ucrânia. Segundo o jornal "Capital de Negócios”, a ETG foi registrada na aldeia húngara de Chabda. Ela foi fundada por quatro indivíduos: o israelense Averbukh Gordon e três cidadãos da Roménia Ancha Negreanu, Luz Lucas e Savvu Mihay, todos os quatro estão desempregados. Em 2003, a ETG tornou-se a única transportadora do gás turcomano para a Ucrânia. Como resultado, esta empresa com um pequeno capital declarado tem acesso a suprimentos de combustível de bilhões de dólares. Os motivos desse crescimento bem-sucedido da ETG, aparentemente, estão no alto grau de influência de seus clientes. Vários meios de comunicação sugeriram repetidamente a conexão da ETG com o conhecido empresário Semyon Mogilevich.
(5)  A empresa MoldovaGaz JSC é uma das maiores empresas do setor de energia da República da Moldávia. As atividades da empresa e das empresas subsidiárias concentra-se no transporte, fornecimento e distribuição de gás natural na República da Moldávia, bem como o transporte de gás natural para os consumidores dos Balcãs. A MoldovaGaz" está em uma situação crítica devido às dívidas acumuladas desde agosto de 2013, quando a entrada de dinheiro dos operadores do complexo de energia térmica (CTE) subitamente caiu em função da queda do consumo de gás natural. Como solução a empresa poderia entregar parte das ações da "MoldovaGaz", para a empresa russa “Gazprom” credora da maior parte da dívida. Assim, as redes de gás construídas a partir do dinheiro dos cidadãos da Moldávia passariam a pertencer a empresa russa, isso levará à subjugação energética da República da Moldávia a Moscou.
(6)  A Vemex é uma suposta empresa checa que vende gás natural russo. Desde que surgiu em 2001, aparentemente do nada, capturou cerca de 10% do mercado checo de gás no varejo. A sua estrutura de propriedade é essencialmente indecifrável, ela é propriedade de um grupo de empresas com sede na Suíça, Alemanha e Áustria, uma das quais é Centrex Europe Energy & Gas, fundada pelo braço de financiamento da Gazprom e registrada na Áustria e, segundo a Comissão Europeia, de propriedade de duas empresas, uma registrada em Chipre e outra controlada pela subsidiária alemã da Gazprom. Entre esses tipos de entidades sombrias e contratos importantes com empresas como Gazprom e Lukoil, a República Checa entrega a Rússia quase 80% de seu gás natural. "Muitas empresas russas estão sob a influência do estado, especialmente no setor de energia", disse Karel Schwarzenberg, um político checo de Habsburgo, em uma entrevista no início deste ano. (Desde então, Schwarzenberg tornou-se o ministro das Relações Exteriores.) "E a Rússia está se tornando cada vez mais um estado autoritário. Existe sempre o perigo de que a influência econômica se transforme em influência política".
(7)  Roman Kupchinsky nasceu em Viena, na Áustria e imigrou para os Estados Unidos em 1949. Graduou-se em Ciências Políticas pela Universidade de Long Island. De 1978 a 1988 foi presidente da Prolog Research Corp., uma editora de língua ucraniana e empresa de pesquisa. De 1990 a 2002 foi diretor do serviço ucraniano da Radio Free Europe/Radio Liberty. De 2002 a 2008 foi analista sênior da RFE/RL. Ele foi o autor de numerosos artigos sobre assuntos ucranianos, energia russa e política internacional. Ele editou o “Crime Organizado” da RFE e o “Relógio de Corrupção”, bem como duas coleções de artigos "O Problema da Nacionalidade na URSS" e " Pogrom in Ukraine". Ele faleceu em janeiro de 2010, em Arlington, na Virgínia.  
(8)  Hans-Martin Tillack é um repórter alemão. Nasceu em 1961, em Königs Wusterhausen. Estudou ciências políticas e sociologia em Marburg e em Berlim. Em 2005, ele recebeu o Leipziger Medienpreis, pela reportagem publicada na revista alemã Stern, que expor o escândalo do Eurostat, o órgão estatístico da UE baseado no Luxemburgo. Suas revelações sobre contas ocultas e contratos fictícios, levaram, em 16 de maio de 2003, ao Financial Times publicar várias manchetes que revelaram "Uma vasta rede de saque de fundos comunitários". Dois altos gerentes franceses foram removidos do cargo e toda a diretoria do Eurostat foi demitida. Seis investigações de fraude separadas no Eurostat foram exigidas pelo OLAF, o órgão anti-fraude da UE. Posteriormente, Hans-Martin Tillack foi preso pela polícia belga por determinação das autoridades da União Europeia, cujos órgãos ele estava investigando em relação a alegações de fraude. O OLAF acusou o repórter de ter subornado funcionários da UE para obter documentos para o artigo publicado em 2002 sobre alegadas irregularidades no OLAF. O jornalista foi detido, sua casa e escritório foram revirados, ​​e 16 caixas de documentos, duas caixas de arquivo, dois computadores e quatro telefones celulares foram apreendidos. Em 2007, o Tribunal Europeu julgou que o direito de Hans-Martin Tillack de não revelar as suas fontes de informação tinha sido violado e sentenciou à Bélgica pagar 10 mil euros por danos morais e 30 mil euros em custas. Os documentos apreendidos foram devolvidos a ele em 2008. Em janeiro de 2009, o órgão judiciário belga encerrou definitivamente o caso interposto pelo órgão de luta contra a fraude da UE, o OLAF, contra Hans-Martin Tillack.

Bibliografia:
Goldman, Marshall. “Petrostate: Putin, Power, and the New Russia”. Oxford University Press, 2008.
Holmes, Leslie. “Rotten States? Corruption, Post-Communism, and Neoliberalism”. Duke University Press, 2006.  
Kupchinsky, Roman. “The Merger Between Crime and Terrorism”. Corruption Watch: September 19, 2002. Publicado em Radio Free Europe/Radio Liberty, site: https://www.rferl.org/a/1342425.html
Kupchinsky, Roman. “Walking A Fine Line: The Media and Terrorism”. Corruption Watch: October 9, 2003. Publicado em Radio Free Europe/Radio Liberty, site: ttps://www.rferl.org/a/1342385.html Ostrovsky, Arkady. “The Invention of Russia: The Rise of Putin and the Age of Fake News”. Penguin Books, 2017.
Pomerantsev, Peter. “Nothing Is True and Everything Is Possible: The Surreal Heart of the New Russia”. Guardian First Book Award, Faber & Faber, 2015.
Ther, Philipp and Siljak, Ana. “Redrawing Nations: Ethnic Cleansing in East-Central Europe, 1944–1948”. Rowman & Littlefield, 2001.
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