Por incrível que possa parecer o comunismo ainda é atraente
para muitos, mas essas pessoas nunca ouviram falar sobre o que está oculto embaixo
dos slogans e da realidade das sociedades comunistas, são mal-intencionadas ou
ignorantes.
Na verdade, a origem o sonho comunista está nas ruínas do mercado
trabalhista provocado pelo caos da Primeira Guerra Mundial. Mas, na Rússia teve
início com a vitória do proletariado russo na Revolução de novembro de 1917. Os líderes revolucionários, Lenin, Trotsky e outros
comunistas internacionais, convocaram um Congresso Comunista em 1919, a
convocação dos representantes dos partidos comunistas revolucionários do mundo,
possibilitou, em março de 1919, em Moscou, a fundação da Internacional
Comunista.
Do relatório final do Congresso da Internacional Comunista
de 1919, extraímos:
"A Terceira Internacional foi criada na realidade em
1918, depois da luta prolongada contra o oportunismo e o "chauvinismo
social", especialmente durante a guerra, que resultou na formação de
Partidos Comunistas em vários países. O reconhecimento formal da Internacional aconteceu
agora no primeiro congresso de seus membros realizado em Moscou neste março de
1919. A característica mais proeminente da Terceira Internacional, a saber, é a
missão de levar a cabo os princípios do marxismo, e realizar os ideais do comunismo
e do movimento trabalhista, manifestada imediatamente na medida em que essa
terceira associação internacional de trabalhadores se tornou, em certa medida,
idêntica à liga das repúblicas socialistas "soviéticas".
"A Primeira Internacional estabeleceu a base da luta
internacional do proletariado para o comunismo. A Segunda Internacional marcou
um período de preparação, um período em que o solo foi cultivado com vista à
maior propagação possível do movimento em muitos países.
“A importância da Terceira Internacional Comunista na
história do mundo é que foi a primeira a colocar na vida o maior de todos os
princípios de Marx, o princípio que resume o processo de desenvolvimento do comunismo
e do movimento trabalhista e expressado nas palavras, a “ditadura do
proletariado”."
Mas esta Internacional Comunista morreu com o tempo. Somente
a estrutura formal e o nome permaneceram. Pois ela realmente se tornou uma
Internacional estalinista, interessada apenas na preservação da regra do regime
burocrático de Stálin na Rússia.
Lenin, discutindo os princípios estabelecidos na Terceira
Internacional, afirmou:
"Qualquer marxista, e qualquer pessoa que tenha
conhecimento da ciência moderna, se perguntado se acredita na probabilidade de
uma transição uniforme, harmoniosa e perfeitamente proporcionada em vários
países capitalistas para a ditadura do proletariado, sem dúvida responde a essa
pergunta negativamente. No mundo capitalista, nunca houve espaço para
uniformidade, harmonia e proporções perfeitas.”
Com o advento do stalinismo, a Internacional Comunista
deixou de ser uma organização dedicada à tarefa de lutar pelo estabelecimento
de uma sociedade comunista mundial. Com a degeneração da Revolução Russa e a
destruição do Estado operário, a sociedade stalinista desenvolveu um novo tipo
de estado, um estado de coletivismo burocrático, sob o controle de uma nova
classe de burocratas que possuíam e controlam as propriedades nacionalizadas.
O principal papel Internacional Comunista foi agir como
tropa de choque da diplomacia russa. Os partidos nacionais não gozavam mais de
independência. Suas políticas passaram a serem decididas pelo Soviete Supremo
da União Soviética e suas lideranças foram alteradas à vontade de Moscou. O que
interessava a Stalin e suas cortes, era o que essas organizações nacionais poderiam
renderizar para a Rússia. E, portanto, a Internacional foi completamente
subordinada aos interesses da nova Rússia de Stalin!
Ninguém, naquela época, poderia acreditar na
"dissolução" da União Soviética, pois o fim dessa união significaria
a Rússia dispensar os serviços de seus servos nos vários partidos comunistas em
todo o mundo.
É verdade que Stalin tinha um desprezo infinito por eles.
Ele sempre teve. Muito antes de dominar completamente a Internacional
Comunista, e converte-la num braço do Ministério das Relações Exteriores da
Rússia, Stalin falou com desdém da Internacional Comunista e dos países que
dela faziam parte. No entanto, não é incomum os senhores terem um profundo
desprezo pelos seus servos, mesmo quando esses servos são indispensáveis.
Sob o comando dos estalinistas e dos trotskistas
"ortodoxos", o comunismo não levou a URSS, como qualquer sociedade
progressista, ao desenvolvimento e ao progresso, e o pior, conduziu a uma forma
de exploração do povo, que nem nas sociedades de classes do capitalismo
acontecia.
Vários foram os fatores que levaram a essa “dissolução”, mas,
além das questões econômicas, outras, como as sociais, também contribuíram
significativamente. Entre elas podemos destacar a questão da estrutura
familiar, atacada pelo comunismo rigorosamente, mas, em alguns países dominados
pelo comunismo, as tradições confrontaram e suplantaram essa ideologia
comunista. Um princípio básico do marxismo em sua aplicação chamada comunismo,
é realmente substituir a estrutura familiar. No comunismo russo essa ideia foi
aplicada rigorosamente, Stalin era paranoico quanto a qualquer possível
resistência a proscrição da estrutura familiar tradicional. As crianças eram
ensinadas que o estado era seu “pai” em vez de seus pais biológicos, e se essas
pessoas falassem qualquer coisa contra o estado ou o governo, as crianças
deveriam denunciá-las. A visão de Karl Marx sobre a religião também explica sua
visão da família: "A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a
expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o
suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de
situações sem alma. A religião é o ópio do povo."
Essa frase – “A religião é o ópio do povo” – é, em geral,
pinçada do texto à “Crítica da filosofia do direito de Hegel”, escrita em 1843
e publicada em 1844 por Marx. Em seu contexto ele ataca a religião
fundamentando suas ideias numa tese, que pode ser resumida:
"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem
faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a
autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou
voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo.
O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade
produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um
mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo
enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu ponto de honra
espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu compromisso solene,
a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da
essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por
conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele
mundo cujo aroma espiritual é a religião.
“A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos
homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as
ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que
precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale
de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
“A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não
para que o homem os suportes sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora
os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da
ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que
perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si
mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol
ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si
mesmo.
“Consequentemente, a tarefa da história, depois que o outro
mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa
imediata da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a auto
alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada
na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da
terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em
crítica da política."
O que enfureceu tanto Marx foi o ‘direito de propriedade’,
pois mantendo o direito de herança da propriedade a família se perpetua por
gerações. É por isso muitas pessoas fugiram para o Ocidente depois de ouvir que
lá era possível possuir sua própria casa e deixá-la para seus filhos. Marx era
contra a propriedade da propriedade privada, tudo deveria pertencer ao Estado,
e seu uso seria regulamentado e controlado pelos Órgãos do Partido.
A propriedade social de bens móveis e imóveis ocorre porque
é conveniente e, além disso, é necessário para o processo de produção. Mantém a
existência da sociedade, facilita o desenvolvimento das forças produtivas, e os
homens se apegam a ela, consideram-na natural e necessária.
A família considerada uma comunidade orgânica desenvolvida
através e em torno do casamento, geralmente, embora hoje nem sempre, envolve um
homem e uma mulher em união conjugal e sua prole. Portanto, inclui não apenas
um casal, mas também seus filhos. Isso não exclui os casamentos sem filhos de usarem
o rótulo de "família". As crianças são uma possibilidade natural do
casamento. Também não exclui as famílias monoparentais. Estas são famílias, mas
estão incompletas no sentido natural e orgânico.
O conceito de família tem uma longa história na tradição
ocidental. Tradicionalmente, foi considerado como representando a estabilidade
social, econômica e espiritual. A relação familiar é a "semente da
sociedade", como disse o pensador jurisprudencial calvinista Johannes
Althusius(1), e é a base da educação e da relação simbiótica com o próximo. A
família, fundada na aliança do casamento, é uma instituição orgânica e natural
que fornece um contexto seguro e natural para o florescimento humano. Mesmo os
membros de uma família que não têm relações de sangue com os outros membros são
participantes da instituição (as crianças adotadas são um exemplo óbvio disso).
O conceito e o respeito a instituição da família estão por trás da ordem
social, política e moral do Ocidente.
É claro que o casamento homossexual existe, em parte, por
causa de uma mudança radical no entendimento ocidental da ideia de família.
Houve, de fato, algumas mudanças na nossa compreensão da família para melhor.
Alguns elementos negativos, como o que comumente se conhece como
"patriarcado", foram removidos. No entanto, no processo, ocorreram
mais mudanças negativas que positivas. Anteriormente, a família era considerada
uma instituição com relacionamentos, hierarquias, deveres e obrigações
incorporados. No entanto, a sociedade ocidental esqueceu, por meio tanto da
omissão quanto do intensão, que a família não deve ser moldada a nosso gosto. A
família não é um espaço para o voluntariado, onde os indivíduos autônomos
simplesmente podem moldar deveres e obrigações pelo seu próprio gosto. Isso, no
entanto, são apenas sintomas desse problema fundamental. O que representa uma
mudança sísmica na compreensão da família: - o casamento; além da questão da
procriação, outro componente radical: - procriação e crianças.
O casamento se transformou de uma das instituições sociais
mais naturais e orgânicas em algo irreconhecível. Era anteriormente uma união
de aliança, inviolável, exceto nas circunstâncias mais extremas, como abandono
ou adultério. No Ocidente, o casamento era sagrado. Os compromissos eram assumidos
ante do homem e de Deus, que as pessoas acreditavam ser aquele que havia criado
o casamento. Uma parte natural e quase inevitável desta união sagrada era a
procriação de crianças. Essas crianças nasceriam em uma família de aliança que,
pelo menos, teoricamente, era um ambiente seguro e estável. O casamento
significava família por padrão.
O casamento é agora um contrato voluntário de convivência.
Como Alastair Roberts(2) escreveu em um recente artigo do Theopolis Institute:
"A família agora está mais próxima de um ambiente privatizado e sexual
para correntistas independentes que compartilham padrões semelhantes de
consumo". Aqui, Roberts ilustra como as normas do casamento agora podem
ser moldadas de acordo com os valores e aspirações dos parceiros matrimoniais.
Considere a prática generalizada do divórcio sem motivo como representação
disso. Na medida em que o casamento já não atende às necessidades e desejos de
um ou de ambos os cônjuges, não há motivo para continuar o casamento. Se uma
das partes no casamento se desinteressa, experimenta o tédio, "cai fora o
amor", ou não consegue mais controlar a pressão da relação, a separação
está próxima. O divórcio permite que as partes renunciem à maioria das
obrigações inerentes ao casamento, incluindo as obrigações de companheirismo,
proteção, provisão e fidelidade sexual. Também tem implicações para o casamento
do mesmo sexo. Se as normas do casamento são livres de serem moldadas pelos
parceiros, por que não podem se casar dois homens ou duas mulheres?
O inacreditável está acontecendo, países que conseguiram se
libertar do jugo da demolida União Soviética, estão abraçando calorosamente as
formas tradicionais da família e do casamento, a tradição se manteve latente
durantes anos subjugada a forças dos tanques e dos fuzis automáticos russos,
mas, tão logo a liberdade raiou, dos seus raios renasceram os valores abafados
da cultura daqueles povos. Enquanto isso, a família ocidental, está sendo mortalmente
ferida. A velha ideia de família está morta no Ocidente.
A família não é apenas uma construção sociológica, então
devemos parar de tratá-la como uma. É na família que as pessoas vivem e
prosperam. É natural. Ele traz consigo certas obrigações e deveres. Não é
maleável, não importa o quão nós tentamos fazê-la. No entanto, vemos a família
sendo tratada como uma instituição voluntária. Não é de admirar que muitas
nações ocidentais agora permitam que dois homens ou duas mulheres se casem. Não
é de admirar, quando é manifestamente óbvio que nos esquecemos do que é a
família e por que ela importa. Esta marcha é alarmante e, à luz da dissolução
de fato da família, o futuro do Ocidente parece realmente sombrio.
Eduardo G. Souza.
(1) Johannes
Althusius nasceu em Diedenshausen na Westfália em 1557. Além do registro de
nascimento, pouco se sabe de sua infância. Foi um filósofo e teólogo calvinista
alemão, conhecido por sua obra "Politica methodice digesta et exemplis
sacris et profanis illustrata"; edições revisadas foram publicadas em 1610
e 1614. Depois de receber o título de doutor tanto em Direito Civil quanto em
Direito Eclesiástico em Basle, em 1586, passou a lecionar na faculdade de Direito
na Academia Reformada de Herborn. Esse sucesso foi instrumental, pois assegurou
para Althussius uma oferta para se tornar magistrado municipal de Emden, na
Frieslândia Oriental, cidade que estava entre as primeiras da Alemanha a
abraçar os artigos de fé da Reforma. Althussius aceitou tal oferta em 1604 e
exerceu uma influência comparável à de Calvino em Genebra. Ele guiou a cidade
sem interrupção até sua morte em 1638.
(2) Alastair
Roberts, PhD, pela Universidade de Durham, na Inglaterra, escreve nas áreas da
teologia bíblica e da ética, mas frequentemente ultrapassa esses limites. Ele
participa do podcast semanal Mere Fidelity, é editor da série Politics of
Scripture no blog The Political Today e mantém o blog Alastair’s Adversaria.
Bibliografía
indicada:
Boron, Atilio A.;
Amadeo, Javier y González, Sabrina (comp). “La Teoria Marxista Hoy: Problemas y
Perspectivas”. Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales - CLACSO, Ciudad de
Buenos Aires, AR. 2006.
Engels, Friedrich. “A Origem da Família, da Propriedade
Privada e do Estado”. Editorial
Vitória Ltda., Rio de Janeiro, RJ. 1964.
Marx, Karl. “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”. Boitempo
Editorial, São Paulo, SP. 2010.
O’Toole,
Roger. “Religion: Classic Sociological Approaches”. McGraw Hill, Toronto, Ont,
CA. 1984.
Wikipédia, a enciclopédia livre. “Ópio do povo”. Acesso: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93pio_do_povo
.
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