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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

sábado, 25 de novembro de 2017

O COMUNISMO E A FAMÍLIA



Por incrível que possa parecer o comunismo ainda é atraente para muitos, mas essas pessoas nunca ouviram falar sobre o que está oculto embaixo dos slogans e da realidade das sociedades comunistas, são mal-intencionadas ou ignorantes.
Na verdade, a origem o sonho comunista está nas ruínas do mercado trabalhista provocado pelo caos da Primeira Guerra Mundial. Mas, na Rússia teve início com a vitória do proletariado russo na Revolução de novembro de 1917.  Os líderes revolucionários, Lenin, Trotsky e outros comunistas internacionais, convocaram um Congresso Comunista em 1919, a convocação dos representantes dos partidos comunistas revolucionários do mundo, possibilitou, em março de 1919, em Moscou, a fundação da Internacional Comunista.
Do relatório final do Congresso da Internacional Comunista de 1919, extraímos:
"A Terceira Internacional foi criada na realidade em 1918, depois da luta prolongada contra o oportunismo e o "chauvinismo social", especialmente durante a guerra, que resultou na formação de Partidos Comunistas em vários países. O reconhecimento formal da Internacional aconteceu agora no primeiro congresso de seus membros realizado em Moscou neste março de 1919. A característica mais proeminente da Terceira Internacional, a saber, é a missão de levar a cabo os princípios do marxismo, e realizar os ideais do comunismo e do movimento trabalhista, manifestada imediatamente na medida em que essa terceira associação internacional de trabalhadores se tornou, em certa medida, idêntica à liga das repúblicas socialistas "soviéticas".
"A Primeira Internacional estabeleceu a base da luta internacional do proletariado para o comunismo. A Segunda Internacional marcou um período de preparação, um período em que o solo foi cultivado com vista à maior propagação possível do movimento em muitos países.
“A importância da Terceira Internacional Comunista na história do mundo é que foi a primeira a colocar na vida o maior de todos os princípios de Marx, o princípio que resume o processo de desenvolvimento do comunismo e do movimento trabalhista e expressado nas palavras, a “ditadura do proletariado”."
Mas esta Internacional Comunista morreu com o tempo. Somente a estrutura formal e o nome permaneceram. Pois ela realmente se tornou uma Internacional estalinista, interessada apenas na preservação da regra do regime burocrático de Stálin na Rússia.
Lenin, discutindo os princípios estabelecidos na Terceira Internacional, afirmou:
"Qualquer marxista, e qualquer pessoa que tenha conhecimento da ciência moderna, se perguntado se acredita na probabilidade de uma transição uniforme, harmoniosa e perfeitamente proporcionada em vários países capitalistas para a ditadura do proletariado, sem dúvida responde a essa pergunta negativamente. No mundo capitalista, nunca houve espaço para uniformidade, harmonia e proporções perfeitas.”
Com o advento do stalinismo, a Internacional Comunista deixou de ser uma organização dedicada à tarefa de lutar pelo estabelecimento de uma sociedade comunista mundial. Com a degeneração da Revolução Russa e a destruição do Estado operário, a sociedade stalinista desenvolveu um novo tipo de estado, um estado de coletivismo burocrático, sob o controle de uma nova classe de burocratas que possuíam e controlam as propriedades nacionalizadas.
O principal papel Internacional Comunista foi agir como tropa de choque da diplomacia russa. Os partidos nacionais não gozavam mais de independência. Suas políticas passaram a serem decididas pelo Soviete Supremo da União Soviética e suas lideranças foram alteradas à vontade de Moscou. O que interessava a Stalin e suas cortes, era o que essas organizações nacionais poderiam renderizar para a Rússia. E, portanto, a Internacional foi completamente subordinada aos interesses da nova Rússia de Stalin!
Ninguém, naquela época, poderia acreditar na "dissolução" da União Soviética, pois o fim dessa união significaria a Rússia dispensar os serviços de seus servos nos vários partidos comunistas em todo o mundo.
É verdade que Stalin tinha um desprezo infinito por eles. Ele sempre teve. Muito antes de dominar completamente a Internacional Comunista, e converte-la num braço do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Stalin falou com desdém da Internacional Comunista e dos países que dela faziam parte. No entanto, não é incomum os senhores terem um profundo desprezo pelos seus servos, mesmo quando esses servos são indispensáveis.
Sob o comando dos estalinistas e dos trotskistas "ortodoxos", o comunismo não levou a URSS, como qualquer sociedade progressista, ao desenvolvimento e ao progresso, e o pior, conduziu a uma forma de exploração do povo, que nem nas sociedades de classes do capitalismo acontecia.
Vários foram os fatores que levaram a essa “dissolução”, mas, além das questões econômicas, outras, como as sociais, também contribuíram significativamente. Entre elas podemos destacar a questão da estrutura familiar, atacada pelo comunismo rigorosamente, mas, em alguns países dominados pelo comunismo, as tradições confrontaram e suplantaram essa ideologia comunista. Um princípio básico do marxismo em sua aplicação chamada comunismo, é realmente substituir a estrutura familiar. No comunismo russo essa ideia foi aplicada rigorosamente, Stalin era paranoico quanto a qualquer possível resistência a proscrição da estrutura familiar tradicional. As crianças eram ensinadas que o estado era seu “pai” em vez de seus pais biológicos, e se essas pessoas falassem qualquer coisa contra o estado ou o governo, as crianças deveriam denunciá-las. A visão de Karl Marx sobre a religião também explica sua visão da família: "A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo."
Essa frase – “A religião é o ópio do povo” – é, em geral, pinçada do texto à “Crítica da filosofia do direito de Hegel”, escrita em 1843 e publicada em 1844 por Marx. Em seu contexto ele ataca a religião fundamentando suas ideias numa tese, que pode ser resumida:
"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu ponto de honra espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu compromisso solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
“A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
“A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suportes sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.
“Consequentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a auto alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política."
O que enfureceu tanto Marx foi o ‘direito de propriedade’, pois mantendo o direito de herança da propriedade a família se perpetua por gerações. É por isso muitas pessoas fugiram para o Ocidente depois de ouvir que lá era possível possuir sua própria casa e deixá-la para seus filhos. Marx era contra a propriedade da propriedade privada, tudo deveria pertencer ao Estado, e seu uso seria regulamentado e controlado pelos Órgãos do Partido.
A propriedade social de bens móveis e imóveis ocorre porque é conveniente e, além disso, é necessário para o processo de produção. Mantém a existência da sociedade, facilita o desenvolvimento das forças produtivas, e os homens se apegam a ela, consideram-na natural e necessária.
A família considerada uma comunidade orgânica desenvolvida através e em torno do casamento, geralmente, embora hoje nem sempre, envolve um homem e uma mulher em união conjugal e sua prole. Portanto, inclui não apenas um casal, mas também seus filhos. Isso não exclui os casamentos sem filhos de usarem o rótulo de "família". As crianças são uma possibilidade natural do casamento. Também não exclui as famílias monoparentais. Estas são famílias, mas estão incompletas no sentido natural e orgânico.
O conceito de família tem uma longa história na tradição ocidental. Tradicionalmente, foi considerado como representando a estabilidade social, econômica e espiritual. A relação familiar é a "semente da sociedade", como disse o pensador jurisprudencial calvinista Johannes Althusius(1), e é a base da educação e da relação simbiótica com o próximo. A família, fundada na aliança do casamento, é uma instituição orgânica e natural que fornece um contexto seguro e natural para o florescimento humano. Mesmo os membros de uma família que não têm relações de sangue com os outros membros são participantes da instituição (as crianças adotadas são um exemplo óbvio disso). O conceito e o respeito a instituição da família estão por trás da ordem social, política e moral do Ocidente.
É claro que o casamento homossexual existe, em parte, por causa de uma mudança radical no entendimento ocidental da ideia de família. Houve, de fato, algumas mudanças na nossa compreensão da família para melhor. Alguns elementos negativos, como o que comumente se conhece como "patriarcado", foram removidos. No entanto, no processo, ocorreram mais mudanças negativas que positivas. Anteriormente, a família era considerada uma instituição com relacionamentos, hierarquias, deveres e obrigações incorporados. No entanto, a sociedade ocidental esqueceu, por meio tanto da omissão quanto do intensão, que a família não deve ser moldada a nosso gosto. A família não é um espaço para o voluntariado, onde os indivíduos autônomos simplesmente podem moldar deveres e obrigações pelo seu próprio gosto. Isso, no entanto, são apenas sintomas desse problema fundamental. O que representa uma mudança sísmica na compreensão da família: - o casamento; além da questão da procriação, outro componente radical: - procriação e crianças.
O casamento se transformou de uma das instituições sociais mais naturais e orgânicas em algo irreconhecível. Era anteriormente uma união de aliança, inviolável, exceto nas circunstâncias mais extremas, como abandono ou adultério. No Ocidente, o casamento era sagrado. Os compromissos eram assumidos ante do homem e de Deus, que as pessoas acreditavam ser aquele que havia criado o casamento. Uma parte natural e quase inevitável desta união sagrada era a procriação de crianças. Essas crianças nasceriam em uma família de aliança que, pelo menos, teoricamente, era um ambiente seguro e estável. O casamento significava família por padrão.
O casamento é agora um contrato voluntário de convivência. Como Alastair Roberts(2) escreveu em um recente artigo do Theopolis Institute: "A família agora está mais próxima de um ambiente privatizado e sexual para correntistas independentes que compartilham padrões semelhantes de consumo". Aqui, Roberts ilustra como as normas do casamento agora podem ser moldadas de acordo com os valores e aspirações dos parceiros matrimoniais. Considere a prática generalizada do divórcio sem motivo como representação disso. Na medida em que o casamento já não atende às necessidades e desejos de um ou de ambos os cônjuges, não há motivo para continuar o casamento. Se uma das partes no casamento se desinteressa, experimenta o tédio, "cai fora o amor", ou não consegue mais controlar a pressão da relação, a separação está próxima. O divórcio permite que as partes renunciem à maioria das obrigações inerentes ao casamento, incluindo as obrigações de companheirismo, proteção, provisão e fidelidade sexual. Também tem implicações para o casamento do mesmo sexo. Se as normas do casamento são livres de serem moldadas pelos parceiros, por que não podem se casar dois homens ou duas mulheres?
O inacreditável está acontecendo, países que conseguiram se libertar do jugo da demolida União Soviética, estão abraçando calorosamente as formas tradicionais da família e do casamento, a tradição se manteve latente durantes anos subjugada a forças dos tanques e dos fuzis automáticos russos, mas, tão logo a liberdade raiou, dos seus raios renasceram os valores abafados da cultura daqueles povos. Enquanto isso, a família ocidental, está sendo mortalmente ferida. A velha ideia de família está morta no Ocidente.
A família não é apenas uma construção sociológica, então devemos parar de tratá-la como uma. É na família que as pessoas vivem e prosperam. É natural. Ele traz consigo certas obrigações e deveres. Não é maleável, não importa o quão nós tentamos fazê-la. No entanto, vemos a família sendo tratada como uma instituição voluntária. Não é de admirar que muitas nações ocidentais agora permitam que dois homens ou duas mulheres se casem. Não é de admirar, quando é manifestamente óbvio que nos esquecemos do que é a família e por que ela importa. Esta marcha é alarmante e, à luz da dissolução de fato da família, o futuro do Ocidente parece realmente sombrio.
Eduardo G. Souza.

(1)  Johannes Althusius nasceu em Diedenshausen na Westfália em 1557. Além do registro de nascimento, pouco se sabe de sua infância. Foi um filósofo e teólogo calvinista alemão, conhecido por sua obra "Politica methodice digesta et exemplis sacris et profanis illustrata"; edições revisadas foram publicadas em 1610 e 1614. Depois de receber o título de doutor tanto em Direito Civil quanto em Direito Eclesiástico em Basle, em 1586, passou a lecionar na faculdade de Direito na Academia Reformada de Herborn. Esse sucesso foi instrumental, pois assegurou para Althussius uma oferta para se tornar magistrado municipal de Emden, na Frieslândia Oriental, cidade que estava entre as primeiras da Alemanha a abraçar os artigos de fé da Reforma. Althussius aceitou tal oferta em 1604 e exerceu uma influência comparável à de Calvino em Genebra. Ele guiou a cidade sem interrupção até sua morte em 1638.
(2)  Alastair Roberts, PhD, pela Universidade de Durham, na Inglaterra, escreve nas áreas da teologia bíblica e da ética, mas frequentemente ultrapassa esses limites. Ele participa do podcast semanal Mere Fidelity, é editor da série Politics of Scripture no blog The Political Today e mantém o blog Alastair’s Adversaria.

Bibliografía indicada:
Boron, Atilio A.; Amadeo, Javier y González, Sabrina (comp). “La Teoria Marxista Hoy: Problemas y Perspectivas”. Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales - CLACSO, Ciudad de Buenos Aires, AR. 2006.
Engels, Friedrich. “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. Editorial Vitória Ltda., Rio de Janeiro, RJ. 1964.
Marx, Karl. “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”. Boitempo Editorial, São Paulo, SP. 2010.
O’Toole, Roger. “Religion: Classic Sociological Approaches”. McGraw Hill, Toronto, Ont, CA. 1984.
Wikipédia, a enciclopédia livre. “Ópio do povo”. Acesso: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93pio_do_povo


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