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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

ESCOLAS MILITARES



Os elementos que compõem a organização das escolas militares mostram como as práticas disciplinares ritualizadas podem ser simbólicas e instrumentais, construindo e reproduzindo identidades, ao mesmo tempo em que atribuem hierarquia à linguagem moral aparentemente neutra de respeito.
Certamente uma das críticas mais veementes contra esta forma de educação é a visão comumente assumida entre persuasão e coerção. Ao invés de ver o uso coercivo da força como simplesmente um produto de persuasão, e preciso entender que a coerção também pode ser uma parte da persuasão. Os ritos militares são ricos de significados simbólicos que podem ter profundos efeitos sobre a subjetividade e até mesmo simbolicamente elevar seus atores acima dos interesses puramente materiais.
A persuasão e a coerção, portanto, não estão em conflito, e podem estar presentes simultaneamente dentro da prática disciplinar. Os ritos disciplinares e a conformação estão sempre localizados dentro de um sistema complexo de relações sociais além do quadro bidimensional de civil versus militar, com pessoas assumindo múltiplos papéis ou posições, por exemplo, um adulto pode punir uma criança, mas também poderá ser punido por um superior. O simbolismo dos rituais de militares moldou essas múltiplas formas de identidade, reafirmando as relações entre elas através da noção de "respeito".
Um ponto que vimos gerar discussão, é algumas pessoas não conseguirem entender a continência ao superior, um rito disciplinar observado durante o ingresso diário na escola, em que os alunos cumprimentam, através da continência, um outro aluno, que está ali representando a autoridade constituída, através de uma graduação ou posto. Tal ritualística não foi concebida como um castigo, mas sim como uma representação de respeito ao superior hierárquico e um meio de transformar a disposição moral interna; o aluno que é cumprimentado é percebido como representante do comando, portanto, digno de respeito até mesmo pelos seus companheiros. É importante ainda destacar que esse aluno não é escolhido aleatoriamente, ele é o “zero um” da sua turma, naquele momento, um dos melhores e mais qualificados alunos da escola. As promoções são, em geral, concedidas por “merecimento” e tempo, criando então uma aspiração de quase todos, a alcançarem os postos mais altos.
Outro ponto de destaque é a doutrina, uma comissão escolar (conselho disciplinar) formada por alunos e professores tem a função de resolver os conflitos sociais e reforçar a ordem moral e o respeito entre os alunos, por meio, mais uma vez, de punições, expandindo a prática disciplinar de uma função docente a uma base de coparticipação entre discentes e docentes.
É importante destacar que a violência escolar sofre uma drástica redução, em função da ordem disciplinar usada pelo regime militar. Aqui, a punição como ferramenta de coerção e correção moral, também se tornou uma ferramenta de disciplina do indivíduo, enquanto a violência era muitas vezes legitimada pela necessidade de autoafirmação e garantia de um espaço conquistado, no desenho do modelo disciplinar militar, a autoafirmação ou preservação do espaço e garantido através de um "complexo de respeito", onde o mérito e a disciplina são a base das relações do grupo. Nas configurações escolares militarizadas, aqueles que são punidos ficam obrigados a se submeter a vontade do grupo e as normas estabelecidas para manter a ordem.
Ainda mais importante, aqueles que estabelecem o castigo como forma de conformação as normas estabelecidas, são, frequentemente, os responsáveis ​​pela promulgação das referidas normas e doutrinas, unindo assim docentes, discentes e autoridades militares, na tentativa de controlar adequadamente as atividades escolares dentro de padrões disciplinares de alto nível.
Em geral os resultados são positivos e adequados, existem casos em que esses elementos simbólicos que combinam a persuasão cultural em coerção, podem levar os colegas a, algumas vezes, mostrar pouca simpatia pelos indisciplinados, endossando a aplicação da disciplina rígida e afastando aqueles que oferecem uma resistência "selvagem" as autoridades.
Portanto, o modelo de organização militar escolar, está alicerçado na disciplina e na ordem hierárquica, como forma de manter e defender a ordem, permanecendo confiável como um modelo ideal da ordem social nas escolas.
O modelo militar demonstra os aspectos potencialmente disciplinares dos ritos, simbolizando a ordem moral e afirmando as autoridades por trás deles. Ao mesmo tempo, chama a atenção para um aspecto raramente discutido nos estudos dos rituais: os laços potenciais entre símbolos ou práticas ritualísticas em contextos sociais. Da religião à política, da publicidade às interações diárias, os ritos são um aspecto omnipresente da existência social humana: o pensamento através dos laços e as possíveis transferências simbólicas entre esses ritos, pode ser uma direção promissora para um estudo mais aprofundado da disciplina militar nas escolas.
Eduardo G. Souza
Portador da Medalha “Marechal Trompowsky”
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar
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