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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

ESSES PASTORES!



Para aqueles leitores que não estão familiarizados com a “expulsão de demônios”, é uma mania religiosa que varre ostensivamente o mundo há cerca de quinze anos. Durante a "expulsão de demônios", as pessoas são inexplicavelmente levadas a comportamento histéricos, "falando em línguas", comportando-se como animais selvagens, e muitas vezes caindo no chão como se de repente tivessem algum tipo de ataque epiléptico. Como podemos ver em diversas mídias que estão postadas no YouTube.
Esses fenômenos, podem ser classificados como histeria em massa para a maioria dos observadores - cientistas e leigos – como deduziram. Os estudos desses fenômenos têm sido registrados em centena de livros que descrevem e discutem a histeria de massa. As conclusões têm demonstrado que aqueles que participaram disso, foram emocionalmente envolvidos, são indivíduos muito sugestionáveis ​​e não há dúvida de que as expectativas criadas e o desejo de desempenhar um papel importante na ocasião (isso é – ‘querer aparecer’), também prevaleceram.
A crença de que os demônios existem e podem possuir as pessoas é, naturalmente, material de ficção e filmes de terror, mas também é uma das crenças religiosas mais amplamente difundidas no mundo. A maioria das religiões afirma que os seres humanos podem ser possuídos por espíritos demoníacos (a Bíblia, por exemplo, conta seis casos de Jesus expulsando demônios) e oferece o exorcismo para combater esta ameaça. Então, na medida em que as pessoas acreditam que os exorcismos "funcionam", devido ao poder da sugestão e da psicossomática, eles poderão funcionar se a pessoa acreditar que está possuída (e que um exorcismo irá curá-la), então ele poderá curá-lo.
Hollywood, é claro, tem capitalizado o fascínio do público com o exorcismo e a possessão demoníaca, com filmes, muitas vezes. designados como "baseados em uma história verdadeira". Existem inúmeros filmes inspirados no exorcismo, incluindo "O Último Exorcismo” (The Last Exorcism), "O Exorcismo de Emily Rose” (The Exorcism of Emily Rose), "Filha do Mal” (The Devil Inside) e "O Ritual” (The Rite), variando em qualidade, originalidade e significado. O maior sucesso, no entanto, é do clássico "O Exorcista” (The Exorcist), nas semanas seguintes ao lançamento do filme em 1974, as igrejas católicas dos EUA receberam pedidos diários de exorcismos. O roteiro foi escrito por William Peter Blatty, adaptado do seu best-seller de 1971, do mesmo nome. Blatty declarou que a inspiração do filme veio de um artigo do Washington Post, que ele havia lido em 1949, sobre um menino de Maryland que havia sido exorcizado. Blatty acreditou (ou alegou acreditar) que era uma história verídica, embora pesquisas posteriores revelassem que a história tinha sido sensacionalista e estava longe de ser credível.
Michael Cuneo, em seu livro “American Exorcism: Expelling Demons in the Land of Plenty” (em português, Exorcismo Americano: Expulsando Demônios na Terra da Abundância), credita a Blatty e ao filme "The Exorcist", em grande parte, o interesse atual no exorcismo. Quanto à precisão histórica, porém, Michael Cuneo diz que o filme de William Blatty é uma enorme fantasia, fundamentada em uma história frágil do diário de um sacerdote. Realmente houve um menino que passou por um exorcismo, mas praticamente todos os detalhes sangrentos e sensacionais que aparecem no livro e no filme foram exagerados e completamente inventados.
Na verdade, a partir do sucesso do filme, muitos passaram a acreditar que os exorcismos são reais e relíquias da Idade das Trevas, e que aqueles que sofrem o exorcismo são realmente possuídos por espíritos ou demônios. A partir de então, exorcismos em abundancia estão sendo realizados, em muitas igrejas neopentecostais ou de origem totalmente desconhecida, por pessoas totalmente desqualificadas e algumas “mal-intencionadas”, muitas vezes em pessoas que estão emocionalmente e mentalmente perturbadas, necessitando dos cuidados de um profissional, ou em muitos casos são fraudes praticadas para levar as pessoas a acreditarem no poder de falsos profetas ou charlatões, e assim doarem dinheiro ou bens para eles.
Muitas pessoas gostam de filmes assustadores, mas a crença real em demônios e da eficácia do exorcismo pode ter consequências mortais:
- Um garoto autista de oito anos morreu durante uma cerimônia religiosa na igreja Templo da Fé, em Milwaukee, no Estado de Wisconsin (EUA), realizada, segundo o pastor, para exorcizar os "espíritos" responsáveis por sua condição (Folha Online, 25/08/2003).
- A freira Maricica Irina Cornici, morreu num ritual de exorcismo levado a cabo por um padre e quatro freiras num convento cristão ortodoxo. A jovem de 23 anos, viveu num orfanato e no claustro do monastério Santa Trinidad, em Tanacu, (Romênia), onde ela passou seis dias sem água e sem comida. Maricica foi exorcizada pelo padre Daniel Corogeanu, de 29 anos, e quatro freiras, eles a prenderam com correntes a uma cruz de madeira. teve suas mãos e pernas amarradas, e uma toalha foi colocada em sua boca. A morte de Maricica, amordaçada e amarrada, foi causada por uma violência física muito grave. Segundo o padre Corogeanu, Maricica estava possuída por demônios e maus espíritos, era violenta, espumava e rejeitava a água benta e, por isso, teve que ser imobilizada (Terra.com, 21 de junho de 2005).
- O adolescente franco-africano Kristy Bamu, de 14 anos, saiu de Paris, acompanhado de quatro irmãs, e foi visitar sua irmã mais velha, Magali Bamu, de 29 anos, e o namorado dela, Eric Bikubi, 28, em Londres. Magalie junto com o parceiro, tentou exorcizar os espíritos malignos que teriam tomado Kristy e suas duas irmãs. O trio foi forçado a cantar e orar sem parar durante dias, sem direito a comida ou sono. Kristy passou a ser o foco do fervor religioso de Eric, que passou a usar violência física, o menino foi agredido durante dias com pedaços de pau, barras de metal, alicates e um martelo. Finalmente, Kristy foi colocado numa banheira com as duas irmãs e a torneira aberta até transbordar. Fragilizado pelas agressões, o adolescente afogou-se e morreu (Daily Mail, mar 30, 2012).
- Jaqueline Sanchez de Belize, uma jovem de 22 anos, morreu por não conseguir respirar, na Igreja Pentecostal de San Ignacio de Velasco, na América Central, depois que sofreu uma parada cardiorrespiratória durante um exorcismo para livrá-la de um "demônio" que estava dentro dela. Seus pais acreditavam que ela tinha sido possuída por um demônio, pois vinha sofrendo de convulsões, histeria e doenças que os médicos não conseguiam diagnosticar, após ela ter jogado com uma tábua Ouija utilizada para realizar a comunicação com espíritos. Testemunhas disseram que o corpo de Jaqueline foi "levantado" no ar dentro da igreja enquanto falava com uma voz de homem (O Popular, 30/11/2015).
- Uma "revelação divina" fez com que a nicaraguense Vilma Trujillo, de 25 anos, fosse amarrada e queimada viva numa fogueira para ser "curada" em uma suposta tentativa de exorcismo. A Jovem foi levada para "uma oração de cura", no dia 15 de fevereiro, a um templo da igreja evangélica Visão Celestial das Assembleias de Deus, em El Cortezal, (Nicarágua), lá ela teve os pés e mãos amarrados e ficou sob a guarda de Juan Gregorio Rocha, pastor da igreja. Dias depois, a diaconisa da igreja, Esneyda del Socorro Orozco, ordenou que "por uma revelação divina, deveria ser feita uma fogueira no pátio do templo para curar a vítima por meio do fogo”, em 21 de fevereiro, depois da meia-noite, Trujillo foi queimada na fogueira (Por BBC – Globo.com, 15/03/2017).
A ideia que os espíritos invasores são malignos é, em grande parte, um conceito judaico-cristão. Muitas religiões e seitas aceitam que a posse por entidades pode ser tanto benéfica quanto maléfica, e se ocorrem por curtos espaços de tempo são fenômenos comuns - e não especialmente alarmantes - da vida espiritual. O espiritismo, uma religião que floresce em toda a América desde 1800 e é praticado em muitos países hoje, ensina que a morte é uma ilusão e que os espíritos podem comunicar-se com os humanos. Algumas correntes acreditam em uma forma de possessão chamada canalização, na qual os espíritos dos mortos usar o corpo de um médium e se comunicar através deles. Centenas de livros, esculturas, telas e até algumas sinfonias, foram supostamente compostas por espíritos.
Claramente, estamos lidando com situações que não são verdadeiramente espirituais na sua natureza, mas podem ser infelizmente compartilhadas por crentes e não crentes. Obviamente, cabe-nos interpretar as emoções associadas e encontrar o significado delas... ou não.
É possível que isto não seja nada mais do que o surto hipnótico trabalhando em mentes sugestionáveis.  A hipnose emprega o mesmo truque mental, seja em uma palestra em um treinamento industrial ou nas artimanhas dos evangelistas da TV. Podemos assistir em várias mídias na internet, um participante ou vários voluntários, entrarem em colapso e caírem ao chão, começarem a gritar, sacudir-se, dançar freneticamente, gritar ou falar palavras inteligíveis, emitirem som como animais e outros comportamentos totalmente bizarros, que parecem ser um estado de transe, esse(s) participante(s) algumas vezes estão representando ou fingindo, o que torna muito questionáveis essas mídias.
A algum tempo, quando eu ainda fazia uma pesquisa universitária sobre o tema, entrevistei uma senhora que havia participado de uma dessas sessões de exorcismo, numa dessas igrejas questionáveis. Ela me relatou ter sido convidada por uma vizinha que frequentava a igreja, depois de vários convites, um dia ela resolveu acompanhar a vizinha, então ela relatou: “sentei junto com a minha vizinha. Depois de várias músicas tocadas muito alto, com as pessoas cantando aos gritos, o pastor começou a falar, primeiro em um tom normal, depois começou a gritar, gritar, gritar, então as pessoas começaram a gritar também, era um barulho infernal, minha vizinha ao meu lado, se sacodia e me empurrava e cutucava, então, para meu horror minhas mãos estavam fazendo coisas estranhas e eu rugia. Eu disse: ‘Oh Senhor por favor, por favor, não me faça rugir, somente os animais rugem, as pessoas não rugem’, aí, não sei porque, me levantei e eu girei bem alto e eu fiz um grande barulho, e eu estava rastejando pelo chão, fazendo coisas terríveis e metade de mim estava pensando: 'Isso não pode ser eu', mas outra parte sabia que era".
Coisa terrivelmente perturbadora o testemunho dela!
Questionei o porquê do seu comportamento, ela respondeu: “o pastor disse que eu tinha recebido o ‘Espírito Santo’, e agora eu tenho que fazer o trabalho do Senhor”.
Por sua própria conta, ela foi invadida e possuída por uma força que a reduziu ao comportamento bestial, rastejando e rugindo como um animal selvagem, contra sua vontade consciente. Ela simplesmente foi controlada, física e psicologicamente, por uma força de controle. E, no entanto, sua experiência mesmo que dolorosa obviamente não era a presença do Espírito Santo no seu Ser, não é assim que o Espírito Santo opera na vida de uma pessoa. Ele não santifica pessoas possuindo-as como um demônio e forçando-as a fazer coisas estranhas e sub-humanas. O espirito santo deve ser o elo de ligação de Deus com o Homem, trazendo a verdade para suas mentes, iluminando sua compreensão. Qualquer pessoa com algum discernimento espiritual sabe que essa força obscura não era o Espírito Santo. Mas, considerando o viés da pesquisa, infelizmente eu não pude dizer isso a ela.
Uma coisa importante para entender a histeria de massa, é que ela pode arrastar até mesmo aqueles que estão em guarda contra ela. A partir do relato, parece-me que é o que aconteceu, foi um caso clássico de histeria de grupo, onde a vítima foi arrastada, através de uma série de estímulos sensoriais a um comportamento incitado e compatível ao grupo.
É um comportamento comum, quando um grupo de pessoas está fugindo de alguma coisa, outros, mesmo não sabendo o motivo, outras fugirem e correrem com o resto do grupo, o mais rápido que puderem. As pessoas fogem, os corações batem disparados, as pessoas morrem de medo, mesmo não tendo ideia do porquê. Quando cessa a correria, as pessoas então querem saber do que estavam correndo, então alguém pode disser, por exemplo, que um homem mostrava uma arma. Os sentimentos e as emoções são absolutamente irresistíveis e ninguém deve sentir-se envergonhado depois de, não por covardia, mas por segurança, assumir esse comportamento. Na verdade, essa é uma reação muito normal nos nossos dias. Na realidade não devemos estranhar nossa incapacidade total e repentina de manter nossa individualidade, é natural instantaneamente, consciente ou contra a nossa vontade, submergir ao comportamento do organismo maior, o grupo.
Tal aconteceu com minha entrevistada, ela foi jogada com outras pessoas no chão e assumiu um comportamento bizarro, mesmo contra sua vontade, neste caso, a conformidade social entrou no jogo. A conformidade social é extremamente poderosa e às vezes é de controle total sobre o comportamento. Eu sei que isso é verdade, não apenas por causa da experiência descrita acima, mas porque já vi isso centenas de vezes na internet.
A conformidade social tem suas raízes na estratégia da sobrevivência evolutiva. Os seres humanos têm que trabalhar juntos para sobreviver e qualquer pessoa que "balança o barco" é considerada "antissocial" e rapidamente condenada ao ostracismo pelo resto do grupo. Não se comportar como se espera é uma grave inaptidão social.
Em um desse vídeos que estão no YouTube, podemos ver uma moça que inicia uma dança girando e balançando os baços freneticamente, o que acontece em seguida é várias outras mulheres agirem igualmente, e isso aconteceu dentro de alguns segundos!
Então, mesmo que seja conhecedor da situação de antemão ou que sua guarda esteja alta, quando chegar o momento, para a maioria, é irresistível não seguir o comportamento do grupo. A perda do autocontrole e da autodeterminação ocorre em um nível inconsciente, mesmo que a pessoa ainda esteja consciente.
Você já se pegou balançando no ritmo das fortes batidas da bateria de uma Escola de Samba? É, quando você vê, está sambando, mesmo sem saber! Portanto, mesmo que conscientes, não estamos totalmente conscientes das mudanças que acontecem em nosso próprio cérebro, e aí vai um longo caminho para explicar o complexo mecanismo de resposta comportamental das pessoas aos estímulos externos.
Agora me recordei de um documentário sobre o bocejar, quando alguém boceja próximo a você, é difícil também não bocejar. Você pode até tentar parar, mesmo assim continua bocejando. Quanto mais você pensa em tentar não bocejar, mais difícil torna-se não bocejar.
Não é desconhecido também que certos pregadores carismáticos usam truques nestas circunstâncias. Um leve choque elétrico é suficiente para convencer, até mesmo um cético endurecido, de que algo incomum realmente aconteceu. Às vezes, o aparelho que descarrega essa energia elétrica está escondido em uma cruz de madeira decorada ou nas mãos. Os olhos dos espectadores seguem a mão que toca a cabeça, sem saber que o pregador está descarregando o choque elétrico não com a mão que toca a cabeça, mas, com a outra que toca outra parte do corpo mais baixo. Para o destinatário, a sensação é tão rápida que é indistinguível.
Fico surpreso com a facilidade com que algumas pessoas são enganadas, e muito agastado com aqueles que usam a religião como uma ferramenta para usando a espiritualidade enganar os crédulos para seus próprios objetivos obscuros e nefastos.


Eduardo G. Souza

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