Na verdade, alguns países ainda têm partidos comunistas,
como Austrália, Áustria, Bangladesh, Brasil, Canadá, França, Itália, entre
outros. Mesmo os EUA possuem na verdade dois partidos de esquerda.
Podemos teorizar que as pessoas procuram os comunistas
porque não têm experiência do que é um estado totalitário. As pessoas estão
apenas perseguindo fantasias ou ideais ignorantes, ou talvez seguindo algum
guru intelectual. Talvez os comunistas sejam muito jovens, ou talvez muito
velhos, para entender completamente as implicações de seus votos. Eles gozam da
liberdade relativamente maior de nosso país, e votar no comunismo significa rebelião,
e alguns adoram a ideia de que são rebeldes. Se eles soubessem como é o
comunismo na verdade, provavelmente mudariam de ideia.
Esta visão simplista e utópica do comunismo, foi abandonada
na Rússia, na China, e em vários países do leste europeu e da Ásia. As pessoas que
sabem muito bem o que é o comunismo, que experimentaram os efeitos devastadores
da eliminação da propriedade privada e do controle total dos meios de produção
pelo Estado, não querem nem pensar em comunismo. Pois a tutela do comunismo, significa
cancelar todas as liberdades. A Rússia e os países da demolida União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas viveram por quarenta anos um pesadelo e
acabaram acordando e lutando para o fim do domínio comunista.
Então, por que no Brasil ainda existe quem acredite nisso?
Qual é a força motriz dos votos para os partidos comunistas, em países não comunistas
como o nosso?
Há muitas explicações possíveis, mas o que eu acho mais
convincente é que algumas pessoas, em virtude de não terem vivido sob condições
estatistas, não compreendem a responsabilidade que vem com o exercício da
liberdade.
Acreditar no direito de propriedade privada e em uma
sociedade livre significa uma grande responsabilidade.
O exercício da liberdade implica em decidir o que a sociedade
deve fazer, e o que deve ser feito por você sozinho ou em cooperação com outros.
No Estado Democrático existe o exercício da liberdade e as decisões recaem
sobre os indivíduos, não são tomadas por um poder central como nos Estado
Totalitários, e todos são responsáveis por suas ações. Se você cometer um
erro, você paga. Se você tiver sucesso, você obtém o benefício e é livre para
escolher o que fazer com ele.
Em contraste, o controle pelo estado sempre significa um
ataque a responsabilidade. Sob um regime comunista, a auto responsabilidade é
eliminada. Quanto mais o governo invade a vida dos cidadãos, menos as pessoas
sentem o senso de responsabilidade por suas ações. Os burocratas geralmente não
têm a total responsabilidade por suas ações. Membros do Poder Central, administradores
públicos e dos órgãos financeiros centrais e os juízes não pagam por seus
erros. Eles experimentam uma espécie de imunidade de culpa pelas consequências
de suas ações durante o tempo em que estão no poder.
O mesmo vale para policiais, médicos, professores, etc.
Todos os erros cometidos por funcionários públicos são geralmente pagos por
outros. A conta é paga pelos contribuintes. Nem mesmo as pessoas que comandam
são totalmente responsáveis sob o Estado Totalitário. Sob as redes de
segurança maiores e maiores criadas pelo estado, as empresas ficam cada vez
mais dependentes do comando dos órgãos do partido. Grandes empresas são pressionadas
por aumento da produção, não existem direitos de importações e outros tipos de comércio.
Bancos, indústrias, grandes empresas, como companhias aéreas, são comandadas e
controladas por comitês do partido, e os trabalhadores sem estímulos e
perspectivas de progresso funcional, “cometem grandes falhas" por
leniência ou negligência.
Os indivíduos são cada vez menos responsáveis. Na Europa,
muitas pessoas cresceram com a ideia de que o Estado lhes deve tudo: emprego,
saúde, educação gratuita, férias, felicidade, transporte, etc. As pessoas são
levadas a acreditar que o Estado sempre se preocupará com seus problemas e resolverá
suas preocupações. As pessoas acreditam que o que quer que aconteça, o Estado
estará lá resolver todos os seus problemas.
O resultado perverso de tudo isso é que os cidadãos não são
mais responsáveis por suas ações. Tudo isso pode ser explicado através do
conceito de risco moral. O mecanismo funciona da seguinte forma: por um lado, a
responsabilidade dos funcionários públicos é transferida para todos os afetados
por seus erros; por outro lado, os trabalhadores exigem uma total
responsabilidade do Estado. Dado que, em última análise, o Estado é responsável
por tudo, pois todas as decisões são tomadas pelos órgãos centrais do partido,
que administra todos os setores do Estado, então os cidadãos deveriam se
preocupar com alguma coisa, eles devem lutar por alguma coisa ou aceitar tudo
de acordo com as característica centralizadora do Estado?
Como em um regime comunista não há propriedade privada e,
portanto, tudo depende do Estado, nesse caso, não temos uma mudança parcial de
responsabilidade de alguns assuntos para outros assuntos. O comunismo acredita
que o povo é incompetente, incapaz de tomar as suas próprias decisões, assim os
líderes pensam o que é melhor para o povo, e tomam todas as decisões. A
responsabilidade individual é simplesmente abolida. Nenhum indivíduo é
responsável por qualquer coisa.
Quando o regime comunista é estabelecido há várias décadas,
o caminho de volta para a liberdade é muito difícil. As pessoas se tornam habituadas
a redes de segurança e a ausência de responsabilidade. O processo de transição é
muito difícil.
Os países da Europa Oriental experimentaram, nos últimos
anos, a transição de pessoas irresponsáveis (sob regimes comunistas) para
pessoas parcialmente responsáveis (sob regimes democráticos). A partir
dessas transições, aprendemos que as pessoas não podem aprender a ser
responsáveis do dia para a noite. Quanto mais uma sociedade perde o contato
com mecanismos de causa e efeito, haverá um choque quando os indivíduos
necessitarem lutar para garantir seu espaço na sociedade e sua própria
subsistência, temos que entender que antes tudo era provido e providenciado
pelo Estado, o emprego era garantido, sendo o trabalhador produtivo ou não, e
tudo mais estava garantido pelo Estado, então por que lutar para crescer, se o
indivíduo vai fazer o que é determinado pelo Estado, e não o que ele quer,
agora passa a existir uma demanda por um espaço e posição dentro da sociedade,
e implica em responsabilidade. A insatisfação por essa demanda, gera para
alguns uma insatisfação, que pode assumir a forma de votos para os partidos
comunistas.
A liberdade não é fácil de lidar com ela, quando as pessoas
se acostumam com à escravidão. Lembro-me do artigo “Barriers to the
Rehabilitation of Ex-Offenders”, de Mitchell W. Dale, sobre pessoas que foram
libertadas da prisão após vários anos de cativeiro. A reintrodução no mundo
livre onde as pessoas esperam que o indivíduo seja responsável pelo que você
faz não é fácil. Da mesma forma, quando alguém viveu por 40 anos sob o
comunismo, o caminho de volta é tremendamente difícil.
O caminho de volta para a democracia, para uma sociedade
livre é muito difícil.
É impossível argumentar contra a constatação de que uma
sociedade livre é uma sociedade mais próspera. Muitas pessoas argumentam que prosperidade
não é o mesmo que felicidade, e, portanto, no caso isso não entra em questão.
Certamente é verdade que mais e mais pessoas nas sociedades ocidentais sofrem
de problemas como depressão e várias formas de doenças mentais, como distúrbios
alimentares (anorexia e bulimia), etc. Não tenho dados para provar, mas é
provavelmente que, na verdade, a porcentagem de pessoas que sofrem de depressão
na Noruega, na Austrália, na Suíça, na Dinamarca, etc., e até mesmo nos Estados
Unidos, seja menor que a mesma taxa em Cuba, Coreia do Norte, Vietnã e Laos.
Na verdade, não podemos relacionar a prosperidade, nem a
dependência aprovisionada pelo estado, com a incidência da depressão. Estima-se
que cerca de 16% da população mundial já sofreu de depressão ao menos uma vez
na vida. É preciso entender que ela não é apenas uma tristeza passageira, mas
sim uma doença. E, como toda doença, precisa ser diagnosticada precocemente e
tratada da forma correta. Não se sabe ainda exatamente quais são as causas para
a depressão ser desencadeada. Porém, diversos fatores podem estar envolvidos: mudanças
físicas no cérebro, alterações químicas na função e efeito dos neurotransmissores
do cérebro, desequilíbrio de certos hormônios e genética, é comum acontecer com
pessoas que tenham parentes que também sofrem com a doença.
A maioria das pessoas que nascem nos países ocidentais,
nasce relativamente abastada. Eles vão à escola até os 18 anos sem ter que
trabalhar; depois disso, muitos deles vão para a universidade e cursam um pós-graduação,
sem usar o dinheiro do governo no ensino superior. Em geral, encontram um
emprego (ganhando o controle de suas vidas) em torno dos 25 a 26 anos de idade.
Sabe-se que, em alguns países, as pessoas tendem a viver mais com seus pais,
adiando o tempo em que passam a controlar suas vidas. Se você não precisa ser
responsável por si mesmo até completar 25 anos, é difícil quebrar o hábito de
dependência.
Além disso, os indivíduos que nascem em famílias ricas não
têm a percepção plena das dificuldades que é fazer riqueza. Quanto mais velhos
eles chegam ao comando dos bens familiares, mais eles podem sentir o fardo de
serem responsáveis por aquela fortuna. Quanto mais ricos os pais são, e quanto
mais os filhos se beneficiam da generosidade dos pais, os pais não estão em uma
posição firme para pressionar seus filhos a se responsabilizem por si mesmos.
Este é um problema que os países comunistas sentem em menor grau.
Ao nos tirar a responsabilidade de nossas ações e prolongar
a fase de dependência da vida, o estado interventor limita nossa capacidade de
ser feliz. A maioria das pessoas nos países comunistas desconhece esses
mecanismos. Mas todos nós somos afetados por eles. Nos países totalitários, as
pessoas ficam frustradas porque não desfrutam de uma vida que podem controlar
completamente. Eles trabalham para dar o seu rendimento ao Estado, para
satisfazer as ordens e os desejos de outras pessoas, e para pagar os erros de
outras pessoas. Ao mesmo tempo, eles esperam que os seus desejos sejam
satisfeitos por outros e que seus erros sejam pagos por outros. Esta condição
frustrante é uma das razões pelas quais a insatisfação surge cada vez mais em
países onde o Estado tem um papel totalmente concentrador.
Assim, o próprio Estado cria as condições psicológicas que
causam a dependência da população para viver em um mundo em que o Estado faz
tudo, cuida de todos e mantém todos em estado permanente de uma dependência infantilizada.
Quanto maior o estado, mais corrompe a mente e a cultura do povo.
Pode-se imaginar que a sociedade, sob o comunismo, seja como
uma espécie de estada prolongada na casa de mãe e pai, sempre presentes, onde
todos os bens pertencem a eles, e as decisões tomadas e os serviços são
prestados pelos pais e não por si próprios. O comunismo significa nunca ter que
deixar o ninho.
Ah, ainda, a ideia de que o comunismo e o planejamento do
estado em geral leva a segurança e felicidade, mas a memória, essa abençoada característica
humana, nos lembra como era a vida sob o cuidado de mãe e pai, em muitos casos
um corolário de normas a serem cegamente seguidas e, em alguns casos, um abuso
contra a liberdade individual. O comunismo é um mundo cinza, estagnado e sem
qualquer criatividade e beleza, a um mundo que parece as sociedades dos velhos
tempos e não dos gloriosos novos tempos pós iluminismo. O homem anseia pela
Liberdade, René Descartes, Baruch Espinoza, Gottfried Wilhelm Leibniz, Carlos
Bernardo González Pecotche, Mikhail Bakunin, Philip Pettit e outros pensadores,
afirmaram que a Liberdade, pode ser compreendida como a ausência de submissão e
de servidão, é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional.
Então como alguém pode apoiar e caminhar para esse regime,
um mundo de servidão, desilusão e irresponsabilidade, e em que a volta é
difícil e que poderá até nunca mais voltar.
Eduardo G. Souza
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