Liberdade.

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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Conviver com a morte.

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Como encarar a morte.


Nossa cultura é cheia de tabus, quando o assunto é a morte, tentamos mudar de assunto, uma saída pela esquerda, ou o tema nos faz cair em silêncio e olhar para longe. Ninguém quer discutir a morte. Entendemos porque ninguém quer assunto com aqueles - enlutados, coveiros, agentes funerários, etc. – que nos lembram e aproximam da morte, ficamos nos contorcendo em desconforto. As imagens da morte são admiradas unicamente por aqueles que cultuam a morte, no entanto a maioria das pessoas corre quando são apresentas figuras e imagens que nos lembram ou mostram a morte, elas não querem saber dessas imagens.


Exigimos que os nossos próprios mortos sejam quase invisíveis e o seu féretro seja executado discretamente. Nós somos uma sociedade humana que tenta se isolar desse fim inevitável de nossas próprias histórias, que é a morte. E esse tabu desfigura nossas vidas.


A negação e horror da morte é uma mudança recente na cultura ocidental, nascido na lama e no sangue das trincheiras da primeira guerra mundial. A escala de mortes nessa guerra foi tão grande que o traje de luto teve de ser abandonado, e os batalhões de corpos dos combatentes não puderam ser devolvidos às suas famílias. Então o luto deixou de ser baseado em um cadáver, para ser baseado na memória do morto, então a morte começou a ser escondida.


Aos poucos, vamos nos afastando mais e mais dos cadáveres. Isto é, em parte, um efeito colateral de um desenvolvimento tecnológico totalmente positivo. Nós vivemos, graças aos avanços da ciência médica, um distanciamento da morte, a maioria de nós morre nos hospitais onde recebemos tratamento médico. Mas isso desenvolveu um instinto natural do ser humano - a negação da morte – por ela estar longe de nós. Os antigos quadros retratando a morte, onde o moribundo era assistido pelo esculápio, cercado de seus familiares, hoje não é mais uma realidade. Hoje, geralmente, nos momentos finais do paciente, todos que não pertencem à equipe médica, são retirados do local.


A morte está cada vez mais difícil de contemplar, e sua aceitação mais difícil, em especial quando abandonamos o anestésico oferecido pela religião.


Como Philip Larkin (Philip Arthur Larkin – 1922/1985 - poeta inglês) colocou: "Não é para estar aqui, / Não pode ser em qualquer lugar, / E em breve, nada mais terrível, nada mais verdadeiro."

Mas ela só se torna mais assustadora e mais corrosiva, se não eliminamos nossos medos, que produzem distorções no estranho modo como vivemos.

Sim, a morte é algo deprimente. Claro que é.


Em seu livro autobiográfico sobre a morte, “Nada a temer”, Julian Barnes (Julian Barnes nasceu em 1946, é considerado uma das maiores revelações da literatura britânica contemporânea) escreve: "É difícil para nós, contemplarmos, firmemente, a possibilidade, e muito menos a certeza, de que a vida é uma questão da casualidade cósmica, que seu objetivo fundamental é a mera auto-perpetuação, que ela se desenvolve no vazio, que o nosso planeta um dia estará à deriva em silêncio, congelado, que a espécie humana desaparecerá completamente, que ela deve ser desperdiçada, porque não há ninguém e nada lá fora, e a perderemos. Isso é o que não queremos aceitar. É assustadora essa perspectiva para uma raça que por tanto tempo se fundamentou em seus deuses, inventados para seu consolo."


No entanto, há algo de útil nessa verdade. Quando você vive a sua vida, fingindo que é eterno e que viverá para sempre, você vai usá-la desmedidamente e de forma esbanjadora, como qualquer outro recurso que você imagina que não vai acabar. Mas quando você é forçado a ver que é finito, isto fará você valorizar e preservar algo que a qualquer momento terminará. Uma cultura que não quer ver os seus mortos, que acredita que estar doente é assustador, se esquece de como viver.

A atitude mais saudável, que o nosso silêncio e fuga, evitando o desespero da morte, é aceitar os nossos mortos, olhar para eles, e compreender que todos teremos que enfrentar a morte um dia. Nossa cultura viverá melhor, se aceitar a morte, em vez de enterrá-la a seis metros de profundidade em nossa psique, junto com nossos traumas e reações incompreendidas.


Você está pronto para enfrentar essa realidade? Você está consciente que terá que enfrentar a morte?

Eduardo G. Souza.
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