Inicialmente é importante lembrar que antes de Cuba e
Venezuela, houve no Brasil algumas tentativas de implantação de um regime
comunista.
Mas, do final dos anos 70 até o início de 2000, o Brasil
representou o maior sonho da esquerda, especialmente da esquerda marxista, era
a grande possibilidade de ocorrer a maior revolução comunista sul-americana do
século XX. Ao contrário dos guerrilheiros de Fidel Castro, que haviam tomado o
poder em Cuba e, eventualmente, estabelecido um regime comunista, e diferente
do carismático Hugo Chávez, que liderou um movimento populista de esquerda na
Venezuela, o movimento político de esquerda do Brasil foi originado nas
organizações sindicais, sob a bandeira das lutas da classe trabalhadora por uma
vida melhor. As organizações do trabalhismo brasileiro e dos movimentos
socialistas apareceram no final do século XX, e para avançar eles estavam
seguindo o script marxista clássico. Primeiro, durante a década de 1970, os
metalúrgicos do ABC realizaram várias greves, que sob a camuflagem da luta
sindical por melhores salários, ocultavam seu verdadeiro papel de combater o
governo militar. Então, em 1983, os trabalhadores organizaram a Central Única
dos Trabalhadores (CUT), que se tornou a principal convergência das
organizações de trabalhadores no país, tentando organizar um proletariado
indisciplinado. Os sindicatos dos trabalhadores das indústrias, dos serviços e
dos funcionários do governo se filiaram à CUT, fortalecendo o movimento
sindical. A CUT e à esquerda cristã (teologia da libertação), usaram os seus
recursos para em 1984 organizar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST),
cuja bandeira era a redistribuição da terra, através de uma reforma agrária,
mas muitos que participaram dessa organização nada tinham a ver com o movimento
agrário.
Em 1980, o movimento sindical, intelectuais radicais de
esquerda, pequenos partidos políticos de extrema-esquerda, e as comunidades de
base cristãs inspiradas na Teologia da Libertação fundaram o Partido dos
Trabalhadores (PT). O Partido dos Trabalhadores nasceu inspirado pelo
socialismo, mesmo havendo várias correntes políticas e visões amplamente
diferentes, isso significava que ideias e interesses diferentes, que iam da
proposta de uma grande reforma social e da regulação da sociedade, de programas
redistributivos de renda para ajudar os pobres, a proposta de uma revolução
política e social para derrubar o capitalismo e criar uma sociedade comunista.
Como ele nasceu sem objetivos e ideias convergentes, borbulhavam as discussões
internas e os debates, enquanto se desenvolvia um processo constante de
interação dos sindicatos com os grupos comunitários. O que parecia um movimento
amplo e democrático foi aos poucos se transformando em um movimento radical. Os
trabalhadores que estavam esperando uma alternativa ao egoísmo patronal,
aqueles que sofriam com a burocracia autoritária do governo, e os que não
aceitavam austeridade da socialdemocracia, foram envolvidos pelas ostensivas
propostas populistas características dos caudilhos e de um reformismo
tipicamente contemporâneo do comunismo.
Em 1989, a PT apresentou como seu candidato à presidência
Luiz Inácio da Silva, mais conhecido por seu apelido Lula, o principal líder
dos metalúrgicos. Lula aparecia como um Eugene Victor Gene Debs, que foi um
líder sindical americano, um dos membros fundadores da Industrial Workers of
the World, e cinco vezes candidato pelo Partido Socialista Americano a
Presidente dos Estados Unidos. Lula era o Debs brasileiro, um líder operário
que iria unir o movimento operário brasileiro, em um partido operário, e que
pretendia colocar o socialismo na ordem do dia do maior país da América Latina.
Durante a década de 90 o PT desenvolveu modelos de governos democráticos e
participativos, o exemplo mais famoso foi o de Porto Alegre, o partido
implantou o modelo de orçamento participativo em outras cidades. Dentro do PT
uma variedade de organizações socialistas revolucionárias estava ativa, entre
elas a Democracia Socialista da Quarta Internacional, que acreditava que o PT
tinha o potencial de se transformar em um partido socialista revolucionário. O
Brasil era um sonho marxista. E, como se viu, foi. Parecia bom demais para ser
verdade.
Lula fez campanha para a presidência em 1989, 1994 e 1998,
e, finalmente, foi eleito em 2002, tornou-se presidente com 61,3 por cento dos
votos. Mas, durante esse primeiro mandato, em vez de conduzir a classe
trabalhadora para uma luta operária contra os capitalistas e os políticos de
direita do país, como muitos esperavam, ele os abraçou e uniu-se com eles.
Surpreendendo muitos dos seus apoiadores e membros do
Partido dos Trabalhadores, Lula continuou muita das políticas neoliberais de
seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Assim as privatizações e
desregulamentações continuaram. Lula virou as costas para a reforma agrária, e
fortaleceu os grandes produtores rurais e a agricultura em grande escala. Ao
mesmo tempo, no entanto, manteve benefícios sociais implantados por FHC, como o
‘Bolsa Escola’, um subsídio da educação que provia ajudas mensais em dinheiro a
famílias pobres cujos filhos estavam matriculados na escola. O governo Lula
mudou o nome do programa para ‘Bolsa Família’ e ampliou o público alvo
rapidamente a partir de 2003, até que cobriu quase toda a população pobre. Como
resultado, a taxa de pobreza do país caiu entre 2003 e 2009, de 22 para 10 por
cento, tirando muitas pessoas da pobreza e levando poucos deles para a classe
trabalhadora. No entanto, ao mesmo tempo em que ele começou a fortalecer os
programas sociais que reduziram a taxa de pobreza, durante seu primeiro mandato
Lula começou a afastar o partido da esquerda. Como e por que Lula e o PT se
afastaram da esquerda radical?
O declínio político do PT e do seguimento de esquerda.
Vamos voltar para o início. O PT como um jovem partido
ganhou força e espaço, especialmente entre os setores mais instruídos e bem
remunerados da sociedade no sudeste do Brasil, ou seja, nos estados de Minas
Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, e no sul, especialmente em
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e logo conseguiu eleger prefeitos em várias
cidades. Lula que concorreu como candidato do partido para presidente, em 1989,
saiu-se excepcionalmente bem na campanha, ganhando 47 por cento dos votos, mas,
em seguida, em 1994, Lula foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, enquanto
ao mesmo tempo governadores do PT, senadores, e prefeitos não conseguiram se
reeleger em 1992 e 1996. Lula e os seus apoiantes chegaram à conclusão que
tinham retrocedido eleitoralmente em relação aos resultados de 1989, e esse
retrocesso teria sido resultado do discurso de extrema esquerda adorado pelo
partido, pelo que tiveram que se deslocar da esquerda radical para a
centro-esquerda. Sua visão foi reforçada pelo sucesso eleitoral de FHC no
estabelecimento de políticas neoliberais que, pelo menos no curto prazo, tinham
recebido ampla aceitação da maioria da população brasileira e havia comprovado
o sucesso do discurso social-democrático.
Embora a ala da esquerda radical do PT obtivesse a maioria
no Congresso do partido de 1993 (o oitavo Encontro) e aprovasse um programa de
extrema-esquerda, pedindo a luta revolucionária, Lula exerceu sua influência
pessoal para ganhar maior autonomia para sua campanha de 1994 - como ele faria
novamente em 1998, 2002 e 2006. Sob a influência de Lula o partido moderou sua
linguagem política, escondeu os radicais, procurou estreitar as relações com
grupos empresariais, e começou a fazer alianças com centrista e até mesmo com
os partidos conservadores.
Os programas de combate à pobreza do governo Lula, foram
especialmente direcionados para grande parte da população pobre do Nordeste. Em
2002 Lula escolheu José Alencar, um bilionário industrial, como seu companheiro
de chapa, enquanto, ao mesmo tempo, o partido abandonou a palavra
"socialismo" e adotou o slogan de "Lulinha, Paz e Amor" e
"O PT por um Brasil decente". Como presidente, Lula contou com um dos
maiores partidos no Congresso Nacional, mas não tinha a minoria, por isso, ele
formou alianças com partidos de centro e até de direita e, a fim de consolidar
sua coalizão política, ele começou a 'comprar' os representantes de outros
partidos, pagando-lhes um subsídio mensal chamado de 'mensalão' como revelado
no escândalo de 2005.
Lula e a direção do PT começaram a se tornar mais autônomos,
mais fragilmente ligados à sua base social. Embora criado pelos sindicatos, o
PT nunca tinha subordinado as organizações sindicais aos laços oficiais, mas
Lula subordinou os sindicatos aos interesses do seu governo. A CUT e os
sindicatos dos metalúrgicos que tinham levado Lula ao poder, se tornaram mais
burocráticos e menos ligados às suas bases sociais, e acabaram cativos
políticos do PT, dependendo de verbas governamentais, enquanto muitos de seus
líderes se tornaram, ao mesmo tempo, funcionários públicos comissionados ou
funcionários do partido e líderes sindicais.
Por outro lado, nomeando "diretores e representantes do
governo" nos conselhos dos fundos de pensão, o governo e o PT tinham, à
força de suas posições, se tornado grandes jogadores das finanças brasileiras;
usando suas forças maquiavélicas pressionaram os fundos a usarem seus recursos
financeiros em investimentos duvidosos, de alto risco e claramente podres, para
atender interesses escusos do governo, do PT e dos aliados. Hoje os principais
fundos de pensão dos trabalhadores: Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa),
Petros (Petrobrás), Geap (servidores públicos), Eletros (Eletrobrás), Centrus
(Banco Central), Portus (Portobrás), Postalis (Correios), Serpros (Serviço de
Processamento de Dados), Real Grandeza (Furnas) e Sistel (Telebrás), e outros
cujos nomes indicam a empresa ou setor a partir do qual foram produzidos,
devido à crise do Mensalão apresentaram quebras e prejuízos drásticos,
ocasionadas por aplicações corruptas feitas em projetos de interesse do governo
e, principalmente, nos bancos Rural e BMG, instituições de onde saía o dinheiro
que o empresário Marcos Valério distribuía ao PT e aos partidos aliados.
O Governo e o PT utilizaram os fundos de benefício dos
trabalhadores, para entrarem nos mercados financeiros comprando papéis de baixo
rendimento e de alto risco para atender interesses escusos do governo e do partido.
Os programas de combate à pobreza de Lula, adotados a partir
de 2001, tiveram um impacto significativo sobre a pobreza, o resultado foi que,
em 2006, as pessoas pobres do Nordeste do Brasil, que formavam a base dos
partidos mais conservadores, começaram a votar em Lula, e mais tarde em Dilma
Rousseff, uma mudança política de enorme significado. Programas de benesses de
Lula mudou a base do partido, dos mais instruídos e mais bem remunerados,
grupos historicamente mais politicamente ativos do Sudeste, para as pessoas
mais politicamente inativas e muito mais pobres do Nordeste, que vinham
historicamente votaram em partidos tradicionais.
O PT de Lula alargou seu poder político com base em uma
parceria com o poder financeiro e as grandes empresas, por um lado, e com os
pobres, por outro, Lula desenvolveu sua estratégia política, de permanência no
poder, formando uma aliança com os banqueiros, industriais e empreiteiras, ao
mesmo tempo em que estabeleceu, através do ‘bolsa família’, um forte elo com os
pobres.
Lula olvidou a reforma agrária, e negligenciou as
comunidades indígenas e tradicionais do campo. Ao mesmo tempo, porém, houve um
acréscimo gradual na produção industrial, através de uma duvidosa e arriscada
política de incentivos fiscais, o consumo interno de bens e serviços cresceu,
mas a exportação de produtos manufaturados permaneceu estancada. O Brasil
permaneceu sendo um país exportador de commodities, e o forte de suas
exportações continuaram dependentes das indústrias extrativas, como a
mineração, madeireira e agricultura, em especial a soja.
Com a aproximação de Lula com a direita, ele foi criticado e
desafiado publicamente pelos esquerdistas do PT, em particular os trotskistas
da IV Internacional, como também por ex-comunistas e esquerdistas
independentes. Estas lutas levaram em dezembro de 2003, com o voto de dois
terços da direção nacional (55 dos 84 integrantes), a expulsão da senadora
Heloisa Helena (AL) e dos deputados João Batista Oliveira de Araújo (conhecido
como Babá) (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE), por indisciplina e
infidelidade partidária. Além disso, foi aprovada, por maioria, a proposta do
‘Campo Majoritário’ de total solidariedade ao governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. O julgamento foi realizado em um luxuoso hotel de Brasília. Ao
chegar para o julgamento, Babá disse que a escolha do local simboliza o que
aconteceu com o PT após a tomada do governo. E lembrou: “quando fundamos a CUT,
em 1983, ficamos acampados no pavilhão da Vera Cruz (antigo estúdio de cinema),
em São Bernardo. Dormíamos em colchonetes de três centímetros. Metade da
delegação do Pará voltou com pneumonia. Hoje, estamos aqui, nesse templo da
burguesia. Poderiam ser mais discretos”, provocou Babá.
As correntes políticas de Babá - ‘Corrente Socialista dos
Trabalhadores’, e de Luciana Genro - ‘Movimento Esquerda Socialista’,
historicamente oriundas do trotskismo ortodoxo, consideraram-se expulsas do
partido e desligaram-se do PT. A situação de Heloísa Helena era mais
complicada, ela pertencia à ‘Democracia Socialista’, corrente ligada a um setor
mais moderado do trotskismo, relacionada com o antigo Secretariado Unificado da
IV Internacional, que já havia decidido continuar no partido. Mesmo assim,
alguns militantes da DS, de diversas regiões do país, em solidariedade a
Heloísa, também se consideram expulsos e saíram do PT.
Velha Esquerda do Brasil: anarquistas, comunistas, e outros.
Para entender como o PSTU, o PSOL e outros partidos de
esquerda nasceram, temos que olhar para a velha esquerda.
Na virada do século XX, o movimento sindical brasileiro, era
formado por imigrantes europeus, e foi liderado por anarquistas que realizaram
as primeiras greves. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado em 1922
por ex-anarquistas sob o impacto da Revolução Russa; foi dirigido durante anos
por Luís Carlos Prestes, que tinha liderado um levante revolucionário na década
de 1920, que levou o efetivo de 14 mil homens iniciar a longa marcha pelo país
denominada de ‘Coluna Prestes’, depois ele se juntou ao PCB. Na década de 1930,
os comunistas, ainda liderado por Prestes, se tornaram um típico partido
pró-soviético, seguindo todas as orientações da Internacional Comunista e da
União Soviética. Mais fragmentado do que os partidos comunistas em outros
países, o PCB abandona os trotskistas no final de 1930, bem como outras
tendências socialistas revolucionárias décadas depois. Ainda assim, manteve-se
o partido de esquerda mais importante do Brasil até 1964.
Com a chegada ao poder do governo populista autoritário de
Getúlio Vargas no golpe de 1930, os comunistas foram expulsos para
clandestinidade. No entanto, ironicamente, seguindo a linha de frente popular o
PCB apoiou Vargas, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial e enviou
tropas para lutar na Europa. Os comunistas cresceram no Brasil, e tiveram
alguma influência nos sindicatos durante os anos 40, mas nunca se tornaram a
força dominante no trabalho, pois os sindicatos eram controlados pelo Estado.
Em seguida, o comunismo entrou em crise na década de 50, depois de Nikita
Khrushchev revelou os crimes de Stalin, no XX Congresso do Partido Comunista da
União Soviética. Por todas estas razões, o Partido Comunista nunca se tornou
uma grande força na política brasileira, nem os trotskistas ou qualquer outro
fragmento da esquerda.
A combinação da queda do comunismo na era Varga, em conjunto
com as notícias da Revolução Cubana de 1959 e a ascensão do maoísmo como uma
tendência internacional no início de 1960, assim como a revolução militar que
ocorreu em 1964, levou à proliferação de pequenas células de esquerda,
neocomunistas, castro-guevaristas, trotskistas e maoístas, algumas delas envolvidas
no movimento clandestino armado. Dilma Rousseff era membro de um desses grupos
clandestinos, a Organização Revolucionária Marxista - Política Operária.
Como vimos, foi nesse caldo heterogêneo que surgiu o PT, se
consolidando na união da maioria das principais organizações socialistas
brasileiras atuais.
Com as rupturas no PT, quem saiu na frente para a composição
de um novo partido foi o PSTU, partido que surgiu a partir da expulsão pelo PT
da então corrente interna ‘Convergência Socialista’, ocorrida em 1992. A
corrente, estruturada nacionalmente, acabou se unindo a vários grupos
socialistas, que também romperam com o PT, na formação de uma 'frente
revolucionária', que culminou, em setembro de 1993, na fundação do Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU.
O PSTU foi fundado na tradição do “trotskismo ortodoxo”,
inspirado nas ideias do ativista e pensador argentino, Nahuel Moreno.
Internacionalmente, o partido faz parte da Liga Internacional dos
Trabalhadores, seção da IV Internacional, fundada pelo próprio Moreno em 1982.
Em janeiro de 2004, no Rio de Janeiro, aconteceu uma reunião
que participam a senadora Heloísa Helena, os deputados Luciana Genro, Babá e
João Fontes (expulsos do PT por terem se mantido fiéis às bandeiras históricas
da classe trabalhadora), representantes de várias correntes políticas,
personalidades, lideranças de movimentos sociais e intelectuais. Por não verem
alternativa à esquerda, os participantes da reunião aprovaram um documento
intitulado - Esquerda Socialista e Democrática – Movimento por um Novo Partido.
O primeiro Encontro Nacional do novo partido ocorreu em
junho de 2004. Por votação, o plenário decidiu que o nome da nova agremiação
seria Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.
Tendo o PSOL se formado a partir de dissidências do PT e do
PSTU, acolheu diversas tendências que haviam discordado de políticas do PT que
tinham por conservadoras. E abrigou diversas correntes de esquerda, muitas
delas leninistas, trotskistas, marxistas libertários e eurocomunistas.
Heloísa foi eleita Presidente do partido, mas quando o PSOL
apoiou, em 2010, a candidatura de Dilma no segundo turno, ela renunciou e
abandonou o partido em protesto.
Dilma era originária do PDT do Rio Grande do Sul, mas, em
seguida, juntou-se ao PT e chegou muito próxima de Lula e, finalmente, sua
sucessora ‘escolhida a dedo’ por Lula. Quando ela assumiu o cargo em 2011,
Dilma continuou a abordagem estratégica de Lula de colaborar com os banqueiros,
industriais e empreiteiros, ao mesmo tempo, que procurou expandir ainda mais os
programas sociais, procurando manter base social popular do governo. Na década
de 2010, ficou claro que o modelo econômico do PT estava correndo sérias
dificuldades.
A Crise brasileira – O Modelo Econômico
Sob os governos Lula e Dilma, o modelo econômico do Brasil
dependia da exportação crescente de produtos agrícolas, incluindo
biocombustíveis; da venda de minerais, principalmente do minério de ferro para
a China; do crescimento do mercado consumidor interno, tornado possível pelo
credito fácil e pela contenção dos preços dos produtos industrializados,
principalmente automóveis, através da concessão de diversos incentivos fiscais
e pelo represamento irresponsável das tarifas das empresas controladas pelo
governo. O modelo funcionou bem de 2004 até 2010, quando o crescimento médio de
4,5 por cento, possibilitando a expansão industrial e dos programas sociais que
estimularam o mercado consumidor. O Brasil superou rapidamente a crise
econômica de 2008. Depois de uma recessão em 2009, alcançou uma taxa de
crescimento excepcional de 7,5 por cento em 2010. Depois disso, no entanto, a
economia começou a declinar, com crescimento de apenas 2,7 por cento em 2011,
um mero 0,9 por cento em 2012, e por apenas 2,5 por cento em 2013. Muitos
analistas econômicos garantiram que o modelo econômico do PT já estava
esgotado. O mercado consumidor do Brasil expandiu-se rapidamente, com
consumidores comprando produtos feitos em outros países, o Brasil cunhou um
problema na balança de pagamentos, o seu saldo da conta se deteriorou de forma
constante desde 2004. O Brasil era então fortemente dependente da expansão
econômica chinesa, mas a China parou de investir pesadamente em infraestrutura,
como ferrovias e na construção civil, deixando a sua idade do ferro, o que
significou que as suas compras de minério de ferro brasileiro caíram. O modelo
de desenvolvimento promovido por Lula e Dilma levou a uma economia baseada na mão
de obra barata, em vez de bons empregos. Cerca de 94 por cento dos postos de
trabalho criados pagavam apenas um salário mínimo por mês. De fato, alguns
críticos argumentaram que a queda da produção industrial já era um problema
sério.
Surpreendentemente, grandes manifestações varreram o país em
junho de 2013, representando uma erupção social como não tinha sido vista em
quarenta anos e se constituiu numa rejeição explícita ao governo do Partido dos
Trabalhadores, mas ainda mais importante, aos políticos e ao governo em todos
os níveis. Os protestos refletiram tanto as crescentes expectativas de
desemprego e queda no poder aquisitivo da classe trabalhadora, como a reação
das classes média e alta a corrupção e a roubalheira instalada no país. Segundo
as agências de pesquisas, cerca de 18,5 milhões de pessoas (de uma população
total de 200 milhões) se juntaram as manifestações que ocorreram em 400 cidades
e 22 capitais de estado, primeiro contra o aumento das tarifas dos transportes
urbanos e, em seguida, contra a corrupção e roubalheira instalada nas empresas
estatais e órgãos governamentais, desvendadas pelo ‘mensalão’ e naquela época
pela operação ‘lava jato’. Em grande parte compostas de jovens, muitos com uma
boa educação, mas sem bons empregos, as manifestações deram expressão às
aspirações das pessoas, que giram, principalmente, em torno de transporte
público, saúde, educação, habitação e emprego e também o sentimento coletivo de
que a sociedade poderia receber melhores serviços, considerando a alta tributação
que lhe é imposta. O enorme investimento do governo de Dilma na construção de
estádios para a Copa do Mundo, exacerbou o sentimento de frustração daqueles
que queriam mais e melhores escolas e hospitais.
Os manifestantes foram inicialmente violentamente reprimidos
pelo governo, mas, em seguida, quando se tornou evidente que eles tinham a
simpatia do público, o governo rapidamente fez concessões menores, ofereceu
promessas de reforma, e em seguida cuidadosamente virou as costas para os
descontentes e ignorou as questões que levantaram. As agências de pesquisa
constataram que 72 por cento da população aprovou as manifestações e que 89 por
cento não tinham fé nos partidos e nos políticos. Os protestos foram seguidos
por uma onda de greves envolvendo 3,5 milhões trabalhadores, um levante dos
trabalhadores, como não tinha sido visto no país há décadas.
Ao mesmo tempo, muitas pessoas se juntaram às manifestações
para protestar contra a corrupção, a corrupção do governo do PT. Os meios de
comunicação, partidos conservadores e grupos de direita se uniram na luta
contra a corrupção. E quanto mais se aprofundavam as investigações, a corrupção
mais se ligava ao governo do PT e seus aliados políticos. A esquerda tentou
negar a sua participação direta nos crimes, mas não foi geralmente bem
sucedida. A falta de uma liderança clara nas manifestações proporcionou
confrontos cada vez mais violentos entre policiais e anarquistas identificados
como o "Black Bloc", fazendo muitos ficarem com medo de participar,
levando ao declínio do movimento. Claramente as manifestações de junho foram um
processo natural, espontâneo e complexo, com diferentes agendas e grupos
políticos, sem que houvesse uma liderança permanente e declarada.
Como a eleição de outubro de 2014 se aproximava, a questão
era, onde estavam aqueles que participaram e simpatizavam com esses movimentos?
A morte inesperada de Eduardo Campos levou o Partido
Socialista Brasileiro a indicar Marina Silva para substituí-lo. Marina,
ex-membro do Partido dos Trabalhadores, foi eleita senadora pelo PT e ministra
do Meio Ambiente no governo Lula. Ela havia concorrido à presidência em 2010,
alcançando o terceiro lugar, com 19 por cento dos votos (19 milhões de votos).
Marina não conseguiu apresentar uma mensagem política clara, por exemplo, a
tentativa de ganhar apoio do movimento LGBT sem afrontar os evangélicos, e
perdeu a eleição para Dilma e Aécio Neves.
Dilma, apoiada pela organização do PT, usando falsas
acusações contra Aécio, como, por exemplo, que ele iria acabar com o ‘bolsa
família’, e com os votos do Nordeste, que viviam graças aos programas do
governo, derrotou Aécio por uma votação de 51,4 por cento contra 48,5 por
cento, uma apertada vitória no segundo turno. Os partidos de esquerda, como
PSOL, PDT, PTB, etc., exortaram seus membros a votar contra Aécio, o que
significava um voto para Dilma, embora algumas correntes sugerir que os membros
da esquerda votassem em branco, pois o PT, não era mais, ou nunca foi, um
partido de esquerda.
Durante a campanha Aécio denunciou que o governo do PT
gastava muito mais do que arrecadava, gerando um déficit desastroso nas contas
públicas. Dilma negou veementemente, mas a verdade é que para garantir as
benesses governamentais e não deixar as consequências da temerária gestão
econômica ser revelada, Dilma continuou gastando sem controle e sem a devida
arrecadação. O rombo nas contas desapareceu maquiado e, com a ajuda do
congresso, as despesas foram subcontabilizadas.
A posse do segundo governo de Dilma em 2015 trouxe, na
tentativa desesperada de Dilma para tentar reverter a terrível situação em que
se encontravam as finanças governamentais, o doutor em economia pela
Universidade de Chicago, Joaquim Levy, então diretor-superintendente de gestão
de ativos do Bradesco, para o cargo de Ministro da Fazenda. Levy assumiu o
ministério com a proposta de cortes de despesas, diminuição de cargos
comissionados, revisão de contratos de prestadores de serviços, redução do
número de ministérios, bem como um controle severo do desperdício de dinheiro
em áreas não prioritárias. Essas providências seriam associadas à elevação da
carga tributária ou a criação de taxações específicas. Como aumentar a carga
tributária brasileira? Uma das mais altas do mundo, cerca de 40% do PIB. Países
com taxação semelhante oferecem serviços públicos incomparavelmente melhores.
No nosso caso, boa parte é consumida para alimentar a própria máquina que nos
infelicita.
Lula criticou, criticou, criticou, nos bastidores, a
política econômica que Levy tentou implantar para salva a economia nacional.
Lula afirmava que a política de Levy afastava Dilma de sua base social, o que
era um risco, principalmente em meio a um momento de fragilidade política do
governo, em razão do então possível processo de impeachment da presidente
Dilma. Ele aconselhou, em várias ocasiões, a presidente a substituir Levy, mas
não era só ele, os membros do PT no congresso também se colocaram publicamente
contra Levy. Assim a queda de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda foi
considerada uma vitória do ex-presidente Lula e de seus seguidores.
Nelson Barbosa assumiu o Ministério da Fazenda, gozando de
confiança de Lula, ele era assíduo frequentador do Instituto Lula. Com a posse
de Nelson Barbosa todos os esforços de Levy para equilibrar as contas
governamentais foram abandonados, e o governo caiu novamente da gastança, sem
uma arrecadação que pudesse sustentar as despesas. Com a aprovação do
Congresso, várias despesas foram autorizadas, através de créditos
suplementares, aumentando o déficit nas contas públicas. O negócio estava tão
descontrolado que a presidente autorizou despesas sem os necessários aportes
financeiros e autorização do congresso e os bancos estatais cobriram despesas
sem a provisão de fundos, caracterizando operações de crédito.
Finalmente, quando a situação da economia atingiu níveis
insustentáveis, levando a um índice de próximo a 15% de desemprego, uma
inflação se aproximando perigosamente dos 12%, uma dívida interna superior aos
3 trilhões de reais e a externa chegando a 2 bilhões de dólares. O congresso
resolveu aceitar o pedido de impeachment da presidente. Passando pela Câmara e
chegando ao Senado, finalmente a presidente foi impedida e afastada do governo,
dando fim a um período de mais de 12 anos do PT no poder.
Nesse período o PT montou, participou e aceitou o maior
esquema de corrupção e roubo do erário já praticado no país. Hoje sabemos que o
‘mensalão’ foi apenas um ensaio para o ‘petrolão’, que conseguiu levar a maior
empresa estatal a uma situação quase falimentar. Qualquer pessoa em sã
consciência não pode acreditar que uma gangue tomando o poder pudesse organizar
um esquema tão corrupto, sem que as lideranças do PT e seus correligionários,
pelo menos desconfiassem. Quando os líderes do PT negam conhecimento do que
aconteceu, só podemos crer que seja por desfaçatez ou incompetência.
A operação ‘lava jato’ da PF, do ministério público federal
e da justiça federal, a cada nova fase deflagrada, trás a luz fatos e dados estarrecedores
que desvendam uma rede criminosa montada para financiar partidos, políticos e
enriquecer pessoas envolvidas, à custa de desvios e roubos praticados em
empresas estatais e órgãos públicos.
O quadro atual sugere uma tendência de que 2014 foi a última
eleição presidencial vencida pelo PT, embora tentem falar que Lula voltará a
correr em 2018, tudo depende do Juiz Sergio Moro e da Justiça Federal, e pelas
últimas decisões do STF, parece que o fim de Lula será mesmo condenado.
Finalmente, hoje o PT é um partido dominado por
sindicalistas, movimentos sociais (MST, MSTS, etc.) e outros grupetos, que
procuram satisfazer seus mais obscuros desejos. Intelectuais, Movimentos
ligados as Igrejas, Esquerdas de verdade, políticos idealistas, etc., que se uniram
para fundar o PT, foram expulsos ou aos poucos foram se afastando, e hoje
alguns lideram movimentos contra o PT. Na verdade o PT desacreditou a esquerda,
o movimento sindical e as organizações sociais. O PT desmoralizou as lutas da
classe trabalhadora e o governo, e criou uma maior aceitação do povo as
políticas e partidos da direita.
Eduardo G. Souza
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário