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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O QUE É O PT



Inicialmente é importante lembrar que antes de Cuba e Venezuela, houve no Brasil algumas tentativas de implantação de um regime comunista.

Mas, do final dos anos 70 até o início de 2000, o Brasil representou o maior sonho da esquerda, especialmente da esquerda marxista, era a grande possibilidade de ocorrer a maior revolução comunista sul-americana do século XX. Ao contrário dos guerrilheiros de Fidel Castro, que haviam tomado o poder em Cuba e, eventualmente, estabelecido um regime comunista, e diferente do carismático Hugo Chávez, que liderou um movimento populista de esquerda na Venezuela, o movimento político de esquerda do Brasil foi originado nas organizações sindicais, sob a bandeira das lutas da classe trabalhadora por uma vida melhor. As organizações do trabalhismo brasileiro e dos movimentos socialistas apareceram no final do século XX, e para avançar eles estavam seguindo o script marxista clássico. Primeiro, durante a década de 1970, os metalúrgicos do ABC realizaram várias greves, que sob a camuflagem da luta sindical por melhores salários, ocultavam seu verdadeiro papel de combater o governo militar. Então, em 1983, os trabalhadores organizaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que se tornou a principal convergência das organizações de trabalhadores no país, tentando organizar um proletariado indisciplinado. Os sindicatos dos trabalhadores das indústrias, dos serviços e dos funcionários do governo se filiaram à CUT, fortalecendo o movimento sindical. A CUT e à esquerda cristã (teologia da libertação), usaram os seus recursos para em 1984 organizar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), cuja bandeira era a redistribuição da terra, através de uma reforma agrária, mas muitos que participaram dessa organização nada tinham a ver com o movimento agrário.

Em 1980, o movimento sindical, intelectuais radicais de esquerda, pequenos partidos políticos de extrema-esquerda, e as comunidades de base cristãs inspiradas na Teologia da Libertação fundaram o Partido dos Trabalhadores (PT). O Partido dos Trabalhadores nasceu inspirado pelo socialismo, mesmo havendo várias correntes políticas e visões amplamente diferentes, isso significava que ideias e interesses diferentes, que iam da proposta de uma grande reforma social e da regulação da sociedade, de programas redistributivos de renda para ajudar os pobres, a proposta de uma revolução política e social para derrubar o capitalismo e criar uma sociedade comunista. Como ele nasceu sem objetivos e ideias convergentes, borbulhavam as discussões internas e os debates, enquanto se desenvolvia um processo constante de interação dos sindicatos com os grupos comunitários. O que parecia um movimento amplo e democrático foi aos poucos se transformando em um movimento radical. Os trabalhadores que estavam esperando uma alternativa ao egoísmo patronal, aqueles que sofriam com a burocracia autoritária do governo, e os que não aceitavam austeridade da socialdemocracia, foram envolvidos pelas ostensivas propostas populistas características dos caudilhos e de um reformismo tipicamente contemporâneo do comunismo.

Em 1989, a PT apresentou como seu candidato à presidência Luiz Inácio da Silva, mais conhecido por seu apelido Lula, o principal líder dos metalúrgicos. Lula aparecia como um Eugene Victor Gene Debs, que foi um líder sindical americano, um dos membros fundadores da Industrial Workers of the World, e cinco vezes candidato pelo Partido Socialista Americano a Presidente dos Estados Unidos. Lula era o Debs brasileiro, um líder operário que iria unir o movimento operário brasileiro, em um partido operário, e que pretendia colocar o socialismo na ordem do dia do maior país da América Latina. Durante a década de 90 o PT desenvolveu modelos de governos democráticos e participativos, o exemplo mais famoso foi o de Porto Alegre, o partido implantou o modelo de orçamento participativo em outras cidades. Dentro do PT uma variedade de organizações socialistas revolucionárias estava ativa, entre elas a Democracia Socialista da Quarta Internacional, que acreditava que o PT tinha o potencial de se transformar em um partido socialista revolucionário. O Brasil era um sonho marxista. E, como se viu, foi. Parecia bom demais para ser verdade.

Lula fez campanha para a presidência em 1989, 1994 e 1998, e, finalmente, foi eleito em 2002, tornou-se presidente com 61,3 por cento dos votos. Mas, durante esse primeiro mandato, em vez de conduzir a classe trabalhadora para uma luta operária contra os capitalistas e os políticos de direita do país, como muitos esperavam, ele os abraçou e uniu-se com eles.
Surpreendendo muitos dos seus apoiadores e membros do Partido dos Trabalhadores, Lula continuou muita das políticas neoliberais de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Assim as privatizações e desregulamentações continuaram. Lula virou as costas para a reforma agrária, e fortaleceu os grandes produtores rurais e a agricultura em grande escala. Ao mesmo tempo, no entanto, manteve benefícios sociais implantados por FHC, como o ‘Bolsa Escola’, um subsídio da educação que provia ajudas mensais em dinheiro a famílias pobres cujos filhos estavam matriculados na escola. O governo Lula mudou o nome do programa para ‘Bolsa Família’ e ampliou o público alvo rapidamente a partir de 2003, até que cobriu quase toda a população pobre. Como resultado, a taxa de pobreza do país caiu entre 2003 e 2009, de 22 para 10 por cento, tirando muitas pessoas da pobreza e levando poucos deles para a classe trabalhadora. No entanto, ao mesmo tempo em que ele começou a fortalecer os programas sociais que reduziram a taxa de pobreza, durante seu primeiro mandato Lula começou a afastar o partido da esquerda. Como e por que Lula e o PT se afastaram da esquerda radical?

O declínio político do PT e do seguimento de esquerda.

Vamos voltar para o início. O PT como um jovem partido ganhou força e espaço, especialmente entre os setores mais instruídos e bem remunerados da sociedade no sudeste do Brasil, ou seja, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, e no sul, especialmente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e logo conseguiu eleger prefeitos em várias cidades. Lula que concorreu como candidato do partido para presidente, em 1989, saiu-se excepcionalmente bem na campanha, ganhando 47 por cento dos votos, mas, em seguida, em 1994, Lula foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, enquanto ao mesmo tempo governadores do PT, senadores, e prefeitos não conseguiram se reeleger em 1992 e 1996. Lula e os seus apoiantes chegaram à conclusão que tinham retrocedido eleitoralmente em relação aos resultados de 1989, e esse retrocesso teria sido resultado do discurso de extrema esquerda adorado pelo partido, pelo que tiveram que se deslocar da esquerda radical para a centro-esquerda. Sua visão foi reforçada pelo sucesso eleitoral de FHC no estabelecimento de políticas neoliberais que, pelo menos no curto prazo, tinham recebido ampla aceitação da maioria da população brasileira e havia comprovado o sucesso do discurso social-democrático.

Embora a ala da esquerda radical do PT obtivesse a maioria no Congresso do partido de 1993 (o oitavo Encontro) e aprovasse um programa de extrema-esquerda, pedindo a luta revolucionária, Lula exerceu sua influência pessoal para ganhar maior autonomia para sua campanha de 1994 - como ele faria novamente em 1998, 2002 e 2006. Sob a influência de Lula o partido moderou sua linguagem política, escondeu os radicais, procurou estreitar as relações com grupos empresariais, e começou a fazer alianças com centrista e até mesmo com os partidos conservadores.

Os programas de combate à pobreza do governo Lula, foram especialmente direcionados para grande parte da população pobre do Nordeste. Em 2002 Lula escolheu José Alencar, um bilionário industrial, como seu companheiro de chapa, enquanto, ao mesmo tempo, o partido abandonou a palavra "socialismo" e adotou o slogan de "Lulinha, Paz e Amor" e "O PT por um Brasil decente". Como presidente, Lula contou com um dos maiores partidos no Congresso Nacional, mas não tinha a minoria, por isso, ele formou alianças com partidos de centro e até de direita e, a fim de consolidar sua coalizão política, ele começou a 'comprar' os representantes de outros partidos, pagando-lhes um subsídio mensal chamado de 'mensalão' como revelado no escândalo de 2005.

Lula e a direção do PT começaram a se tornar mais autônomos, mais fragilmente ligados à sua base social. Embora criado pelos sindicatos, o PT nunca tinha subordinado as organizações sindicais aos laços oficiais, mas Lula subordinou os sindicatos aos interesses do seu governo. A CUT e os sindicatos dos metalúrgicos que tinham levado Lula ao poder, se tornaram mais burocráticos e menos ligados às suas bases sociais, e acabaram cativos políticos do PT, dependendo de verbas governamentais, enquanto muitos de seus líderes se tornaram, ao mesmo tempo, funcionários públicos comissionados ou funcionários do partido e líderes sindicais.

Por outro lado, nomeando "diretores e representantes do governo" nos conselhos dos fundos de pensão, o governo e o PT tinham, à força de suas posições, se tornado grandes jogadores das finanças brasileiras; usando suas forças maquiavélicas pressionaram os fundos a usarem seus recursos financeiros em investimentos duvidosos, de alto risco e claramente podres, para atender interesses escusos do governo, do PT e dos aliados. Hoje os principais fundos de pensão dos trabalhadores: Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa), Petros (Petrobrás), Geap (servidores públicos), Eletros (Eletrobrás), Centrus (Banco Central), Portus (Portobrás), Postalis (Correios), Serpros (Serviço de Processamento de Dados), Real Grandeza (Furnas) e Sistel (Telebrás), e outros cujos nomes indicam a empresa ou setor a partir do qual foram produzidos, devido à crise do Mensalão apresentaram quebras e prejuízos drásticos, ocasionadas por aplicações corruptas feitas em projetos de interesse do governo e, principalmente, nos bancos Rural e BMG, instituições de onde saía o dinheiro que o empresário Marcos Valério distribuía ao PT e aos partidos aliados.

O Governo e o PT utilizaram os fundos de benefício dos trabalhadores, para entrarem nos mercados financeiros comprando papéis de baixo rendimento e de alto risco para atender interesses escusos do governo e do partido.

Os programas de combate à pobreza de Lula, adotados a partir de 2001, tiveram um impacto significativo sobre a pobreza, o resultado foi que, em 2006, as pessoas pobres do Nordeste do Brasil, que formavam a base dos partidos mais conservadores, começaram a votar em Lula, e mais tarde em Dilma Rousseff, uma mudança política de enorme significado. Programas de benesses de Lula mudou a base do partido, dos mais instruídos e mais bem remunerados, grupos historicamente mais politicamente ativos do Sudeste, para as pessoas mais politicamente inativas e muito mais pobres do Nordeste, que vinham historicamente votaram em partidos tradicionais.

O PT de Lula alargou seu poder político com base em uma parceria com o poder financeiro e as grandes empresas, por um lado, e com os pobres, por outro, Lula desenvolveu sua estratégia política, de permanência no poder, formando uma aliança com os banqueiros, industriais e empreiteiras, ao mesmo tempo em que estabeleceu, através do ‘bolsa família’, um forte elo com os pobres.

Lula olvidou a reforma agrária, e negligenciou as comunidades indígenas e tradicionais do campo. Ao mesmo tempo, porém, houve um acréscimo gradual na produção industrial, através de uma duvidosa e arriscada política de incentivos fiscais, o consumo interno de bens e serviços cresceu, mas a exportação de produtos manufaturados permaneceu estancada. O Brasil permaneceu sendo um país exportador de commodities, e o forte de suas exportações continuaram dependentes das indústrias extrativas, como a mineração, madeireira e agricultura, em especial a soja.

Com a aproximação de Lula com a direita, ele foi criticado e desafiado publicamente pelos esquerdistas do PT, em particular os trotskistas da IV Internacional, como também por ex-comunistas e esquerdistas independentes. Estas lutas levaram em dezembro de 2003, com o voto de dois terços da direção nacional (55 dos 84 integrantes), a expulsão da senadora Heloisa Helena (AL) e dos deputados João Batista Oliveira de Araújo (conhecido como Babá) (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE), por indisciplina e infidelidade partidária. Além disso, foi aprovada, por maioria, a proposta do ‘Campo Majoritário’ de total solidariedade ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O julgamento foi realizado em um luxuoso hotel de Brasília. Ao chegar para o julgamento, Babá disse que a escolha do local simboliza o que aconteceu com o PT após a tomada do governo. E lembrou: “quando fundamos a CUT, em 1983, ficamos acampados no pavilhão da Vera Cruz (antigo estúdio de cinema), em São Bernardo. Dormíamos em colchonetes de três centímetros. Metade da delegação do Pará voltou com pneumonia. Hoje, estamos aqui, nesse templo da burguesia. Poderiam ser mais discretos”, provocou Babá.

As correntes políticas de Babá - ‘Corrente Socialista dos Trabalhadores’, e de Luciana Genro - ‘Movimento Esquerda Socialista’, historicamente oriundas do trotskismo ortodoxo, consideraram-se expulsas do partido e desligaram-se do PT. A situação de Heloísa Helena era mais complicada, ela pertencia à ‘Democracia Socialista’, corrente ligada a um setor mais moderado do trotskismo, relacionada com o antigo Secretariado Unificado da IV Internacional, que já havia decidido continuar no partido. Mesmo assim, alguns militantes da DS, de diversas regiões do país, em solidariedade a Heloísa, também se consideram expulsos e saíram do PT.

Velha Esquerda do Brasil: anarquistas, comunistas, e outros.

Para entender como o PSTU, o PSOL e outros partidos de esquerda nasceram, temos que olhar para a velha esquerda.

Na virada do século XX, o movimento sindical brasileiro, era formado por imigrantes europeus, e foi liderado por anarquistas que realizaram as primeiras greves. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado em 1922 por ex-anarquistas sob o impacto da Revolução Russa; foi dirigido durante anos por Luís Carlos Prestes, que tinha liderado um levante revolucionário na década de 1920, que levou o efetivo de 14 mil homens iniciar a longa marcha pelo país denominada de ‘Coluna Prestes’, depois ele se juntou ao PCB. Na década de 1930, os comunistas, ainda liderado por Prestes, se tornaram um típico partido pró-soviético, seguindo todas as orientações da Internacional Comunista e da União Soviética. Mais fragmentado do que os partidos comunistas em outros países, o PCB abandona os trotskistas no final de 1930, bem como outras tendências socialistas revolucionárias décadas depois. Ainda assim, manteve-se o partido de esquerda mais importante do Brasil até 1964.

Com a chegada ao poder do governo populista autoritário de Getúlio Vargas no golpe de 1930, os comunistas foram expulsos para clandestinidade. No entanto, ironicamente, seguindo a linha de frente popular o PCB apoiou Vargas, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial e enviou tropas para lutar na Europa. Os comunistas cresceram no Brasil, e tiveram alguma influência nos sindicatos durante os anos 40, mas nunca se tornaram a força dominante no trabalho, pois os sindicatos eram controlados pelo Estado. Em seguida, o comunismo entrou em crise na década de 50, depois de Nikita Khrushchev revelou os crimes de Stalin, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Por todas estas razões, o Partido Comunista nunca se tornou uma grande força na política brasileira, nem os trotskistas ou qualquer outro fragmento da esquerda.

A combinação da queda do comunismo na era Varga, em conjunto com as notícias da Revolução Cubana de 1959 e a ascensão do maoísmo como uma tendência internacional no início de 1960, assim como a revolução militar que ocorreu em 1964, levou à proliferação de pequenas células de esquerda, neocomunistas, castro-guevaristas, trotskistas e maoístas, algumas delas envolvidas no movimento clandestino armado. Dilma Rousseff era membro de um desses grupos clandestinos, a Organização Revolucionária Marxista - Política Operária.

Como vimos, foi nesse caldo heterogêneo que surgiu o PT, se consolidando na união da maioria das principais organizações socialistas brasileiras atuais.

Com as rupturas no PT, quem saiu na frente para a composição de um novo partido foi o PSTU, partido que surgiu a partir da expulsão pelo PT da então corrente interna ‘Convergência Socialista’, ocorrida em 1992. A corrente, estruturada nacionalmente, acabou se unindo a vários grupos socialistas, que também romperam com o PT, na formação de uma 'frente revolucionária', que culminou, em setembro de 1993, na fundação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU.

O PSTU foi fundado na tradição do “trotskismo ortodoxo”, inspirado nas ideias do ativista e pensador argentino, Nahuel Moreno. Internacionalmente, o partido faz parte da Liga Internacional dos Trabalhadores, seção da IV Internacional, fundada pelo próprio Moreno em 1982.

Em janeiro de 2004, no Rio de Janeiro, aconteceu uma reunião que participam a senadora Heloísa Helena, os deputados Luciana Genro, Babá e João Fontes (expulsos do PT por terem se mantido fiéis às bandeiras históricas da classe trabalhadora), representantes de várias correntes políticas, personalidades, lideranças de movimentos sociais e intelectuais. Por não verem alternativa à esquerda, os participantes da reunião aprovaram um documento intitulado - Esquerda Socialista e Democrática – Movimento por um Novo Partido.

O primeiro Encontro Nacional do novo partido ocorreu em junho de 2004. Por votação, o plenário decidiu que o nome da nova agremiação seria Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Tendo o PSOL se formado a partir de dissidências do PT e do PSTU, acolheu diversas tendências que haviam discordado de políticas do PT que tinham por conservadoras. E abrigou diversas correntes de esquerda, muitas delas leninistas, trotskistas, marxistas libertários e eurocomunistas.

Heloísa foi eleita Presidente do partido, mas quando o PSOL apoiou, em 2010, a candidatura de Dilma no segundo turno, ela renunciou e abandonou o partido em protesto.

Dilma era originária do PDT do Rio Grande do Sul, mas, em seguida, juntou-se ao PT e chegou muito próxima de Lula e, finalmente, sua sucessora ‘escolhida a dedo’ por Lula. Quando ela assumiu o cargo em 2011, Dilma continuou a abordagem estratégica de Lula de colaborar com os banqueiros, industriais e empreiteiros, ao mesmo tempo, que procurou expandir ainda mais os programas sociais, procurando manter base social popular do governo. Na década de 2010, ficou claro que o modelo econômico do PT estava correndo sérias dificuldades.

A Crise brasileira – O Modelo Econômico

Sob os governos Lula e Dilma, o modelo econômico do Brasil dependia da exportação crescente de produtos agrícolas, incluindo biocombustíveis; da venda de minerais, principalmente do minério de ferro para a China; do crescimento do mercado consumidor interno, tornado possível pelo credito fácil e pela contenção dos preços dos produtos industrializados, principalmente automóveis, através da concessão de diversos incentivos fiscais e pelo represamento irresponsável das tarifas das empresas controladas pelo governo. O modelo funcionou bem de 2004 até 2010, quando o crescimento médio de 4,5 por cento, possibilitando a expansão industrial e dos programas sociais que estimularam o mercado consumidor. O Brasil superou rapidamente a crise econômica de 2008. Depois de uma recessão em 2009, alcançou uma taxa de crescimento excepcional de 7,5 por cento em 2010. Depois disso, no entanto, a economia começou a declinar, com crescimento de apenas 2,7 por cento em 2011, um mero 0,9 por cento em 2012, e por apenas 2,5 por cento em 2013. Muitos analistas econômicos garantiram que o modelo econômico do PT já estava esgotado. O mercado consumidor do Brasil expandiu-se rapidamente, com consumidores comprando produtos feitos em outros países, o Brasil cunhou um problema na balança de pagamentos, o seu saldo da conta se deteriorou de forma constante desde 2004. O Brasil era então fortemente dependente da expansão econômica chinesa, mas a China parou de investir pesadamente em infraestrutura, como ferrovias e na construção civil, deixando a sua idade do ferro, o que significou que as suas compras de minério de ferro brasileiro caíram. O modelo de desenvolvimento promovido por Lula e Dilma levou a uma economia baseada na mão de obra barata, em vez de bons empregos. Cerca de 94 por cento dos postos de trabalho criados pagavam apenas um salário mínimo por mês. De fato, alguns críticos argumentaram que a queda da produção industrial já era um problema sério.

Surpreendentemente, grandes manifestações varreram o país em junho de 2013, representando uma erupção social como não tinha sido vista em quarenta anos e se constituiu numa rejeição explícita ao governo do Partido dos Trabalhadores, mas ainda mais importante, aos políticos e ao governo em todos os níveis. Os protestos refletiram tanto as crescentes expectativas de desemprego e queda no poder aquisitivo da classe trabalhadora, como a reação das classes média e alta a corrupção e a roubalheira instalada no país. Segundo as agências de pesquisas, cerca de 18,5 milhões de pessoas (de uma população total de 200 milhões) se juntaram as manifestações que ocorreram em 400 cidades e 22 capitais de estado, primeiro contra o aumento das tarifas dos transportes urbanos e, em seguida, contra a corrupção e roubalheira instalada nas empresas estatais e órgãos governamentais, desvendadas pelo ‘mensalão’ e naquela época pela operação ‘lava jato’. Em grande parte compostas de jovens, muitos com uma boa educação, mas sem bons empregos, as manifestações deram expressão às aspirações das pessoas, que giram, principalmente, em torno de transporte público, saúde, educação, habitação e emprego e também o sentimento coletivo de que a sociedade poderia receber melhores serviços, considerando a alta tributação que lhe é imposta. O enorme investimento do governo de Dilma na construção de estádios para a Copa do Mundo, exacerbou o sentimento de frustração daqueles que queriam mais e melhores escolas e hospitais.

Os manifestantes foram inicialmente violentamente reprimidos pelo governo, mas, em seguida, quando se tornou evidente que eles tinham a simpatia do público, o governo rapidamente fez concessões menores, ofereceu promessas de reforma, e em seguida cuidadosamente virou as costas para os descontentes e ignorou as questões que levantaram. As agências de pesquisa constataram que 72 por cento da população aprovou as manifestações e que 89 por cento não tinham fé nos partidos e nos políticos. Os protestos foram seguidos por uma onda de greves envolvendo 3,5 milhões trabalhadores, um levante dos trabalhadores, como não tinha sido visto no país há décadas.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas se juntaram às manifestações para protestar contra a corrupção, a corrupção do governo do PT. Os meios de comunicação, partidos conservadores e grupos de direita se uniram na luta contra a corrupção. E quanto mais se aprofundavam as investigações, a corrupção mais se ligava ao governo do PT e seus aliados políticos. A esquerda tentou negar a sua participação direta nos crimes, mas não foi geralmente bem sucedida. A falta de uma liderança clara nas manifestações proporcionou confrontos cada vez mais violentos entre policiais e anarquistas identificados como o "Black Bloc", fazendo muitos ficarem com medo de participar, levando ao declínio do movimento. Claramente as manifestações de junho foram um processo natural, espontâneo e complexo, com diferentes agendas e grupos políticos, sem que houvesse uma liderança permanente e declarada.

Como a eleição de outubro de 2014 se aproximava, a questão era, onde estavam aqueles que participaram e simpatizavam com esses movimentos?

A morte inesperada de Eduardo Campos levou o Partido Socialista Brasileiro a indicar Marina Silva para substituí-lo. Marina, ex-membro do Partido dos Trabalhadores, foi eleita senadora pelo PT e ministra do Meio Ambiente no governo Lula. Ela havia concorrido à presidência em 2010, alcançando o terceiro lugar, com 19 por cento dos votos (19 milhões de votos). Marina não conseguiu apresentar uma mensagem política clara, por exemplo, a tentativa de ganhar apoio do movimento LGBT sem afrontar os evangélicos, e perdeu a eleição para Dilma e Aécio Neves.

Dilma, apoiada pela organização do PT, usando falsas acusações contra Aécio, como, por exemplo, que ele iria acabar com o ‘bolsa família’, e com os votos do Nordeste, que viviam graças aos programas do governo, derrotou Aécio por uma votação de 51,4 por cento contra 48,5 por cento, uma apertada vitória no segundo turno. Os partidos de esquerda, como PSOL, PDT, PTB, etc., exortaram seus membros a votar contra Aécio, o que significava um voto para Dilma, embora algumas correntes sugerir que os membros da esquerda votassem em branco, pois o PT, não era mais, ou nunca foi, um partido de esquerda.

Durante a campanha Aécio denunciou que o governo do PT gastava muito mais do que arrecadava, gerando um déficit desastroso nas contas públicas. Dilma negou veementemente, mas a verdade é que para garantir as benesses governamentais e não deixar as consequências da temerária gestão econômica ser revelada, Dilma continuou gastando sem controle e sem a devida arrecadação. O rombo nas contas desapareceu maquiado e, com a ajuda do congresso, as despesas foram subcontabilizadas.

A posse do segundo governo de Dilma em 2015 trouxe, na tentativa desesperada de Dilma para tentar reverter a terrível situação em que se encontravam as finanças governamentais, o doutor em economia pela Universidade de Chicago, Joaquim Levy, então diretor-superintendente de gestão de ativos do Bradesco, para o cargo de Ministro da Fazenda. Levy assumiu o ministério com a proposta de cortes de despesas, diminuição de cargos comissionados, revisão de contratos de prestadores de serviços, redução do número de ministérios, bem como um controle severo do desperdício de dinheiro em áreas não prioritárias. Essas providências seriam associadas à elevação da carga tributária ou a criação de taxações específicas. Como aumentar a carga tributária brasileira? Uma das mais altas do mundo, cerca de 40% do PIB. Países com taxação semelhante oferecem serviços públicos incomparavelmente melhores. No nosso caso, boa parte é consumida para alimentar a própria máquina que nos infelicita.

Lula criticou, criticou, criticou, nos bastidores, a política econômica que Levy tentou implantar para salva a economia nacional. Lula afirmava que a política de Levy afastava Dilma de sua base social, o que era um risco, principalmente em meio a um momento de fragilidade política do governo, em razão do então possível processo de impeachment da presidente Dilma. Ele aconselhou, em várias ocasiões, a presidente a substituir Levy, mas não era só ele, os membros do PT no congresso também se colocaram publicamente contra Levy. Assim a queda de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda foi considerada uma vitória do ex-presidente Lula e de seus seguidores.

Nelson Barbosa assumiu o Ministério da Fazenda, gozando de confiança de Lula, ele era assíduo frequentador do Instituto Lula. Com a posse de Nelson Barbosa todos os esforços de Levy para equilibrar as contas governamentais foram abandonados, e o governo caiu novamente da gastança, sem uma arrecadação que pudesse sustentar as despesas. Com a aprovação do Congresso, várias despesas foram autorizadas, através de créditos suplementares, aumentando o déficit nas contas públicas. O negócio estava tão descontrolado que a presidente autorizou despesas sem os necessários aportes financeiros e autorização do congresso e os bancos estatais cobriram despesas sem a provisão de fundos, caracterizando operações de crédito.

Finalmente, quando a situação da economia atingiu níveis insustentáveis, levando a um índice de próximo a 15% de desemprego, uma inflação se aproximando perigosamente dos 12%, uma dívida interna superior aos 3 trilhões de reais e a externa chegando a 2 bilhões de dólares. O congresso resolveu aceitar o pedido de impeachment da presidente. Passando pela Câmara e chegando ao Senado, finalmente a presidente foi impedida e afastada do governo, dando fim a um período de mais de 12 anos do PT no poder.

Nesse período o PT montou, participou e aceitou o maior esquema de corrupção e roubo do erário já praticado no país. Hoje sabemos que o ‘mensalão’ foi apenas um ensaio para o ‘petrolão’, que conseguiu levar a maior empresa estatal a uma situação quase falimentar. Qualquer pessoa em sã consciência não pode acreditar que uma gangue tomando o poder pudesse organizar um esquema tão corrupto, sem que as lideranças do PT e seus correligionários, pelo menos desconfiassem. Quando os líderes do PT negam conhecimento do que aconteceu, só podemos crer que seja por desfaçatez ou incompetência.

A operação ‘lava jato’ da PF, do ministério público federal e da justiça federal, a cada nova fase deflagrada, trás a luz fatos e dados estarrecedores que desvendam uma rede criminosa montada para financiar partidos, políticos e enriquecer pessoas envolvidas, à custa de desvios e roubos praticados em empresas estatais e órgãos públicos.

O quadro atual sugere uma tendência de que 2014 foi a última eleição presidencial vencida pelo PT, embora tentem falar que Lula voltará a correr em 2018, tudo depende do Juiz Sergio Moro e da Justiça Federal, e pelas últimas decisões do STF, parece que o fim de Lula será mesmo condenado.

Finalmente, hoje o PT é um partido dominado por sindicalistas, movimentos sociais (MST, MSTS, etc.) e outros grupetos, que procuram satisfazer seus mais obscuros desejos. Intelectuais, Movimentos ligados as Igrejas, Esquerdas de verdade, políticos idealistas, etc., que se uniram para fundar o PT, foram expulsos ou aos poucos foram se afastando, e hoje alguns lideram movimentos contra o PT. Na verdade o PT desacreditou a esquerda, o movimento sindical e as organizações sociais. O PT desmoralizou as lutas da classe trabalhadora e o governo, e criou uma maior aceitação do povo as políticas e partidos da direita.

Eduardo G. Souza

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