Todo dia novas vítimas dos baixos preços do petróleo
aparecem, exibindo os patentes sinais da sua aflição. Primeiro, foi à
Venezuela, que ofereceu um triste espetáculo com a desintegração da sua
economia com a queda dos preços do petróleo. Em seguida, foi à Rússia, que está
à beira de um desagradável e autodestrutivo desequilíbrio fiscal, caminhado
para uma grave crise financeira. Em seguida, um evento mais bizarro, o colapso
de um país que é vítima dos preços em queda livre, sem nunca ter sido um grande
produtor de petróleo. Cuba é vítima, porque o país vinha sendo mantido pela
Venezuela, que está indo à falência.
Os dois primeiros estão passando por situações humilhantes.
A Venezuela está forçada a parar de comprar aliados políticos em toda a América
Latina para apoiar a sua ideologia populista, o socialismo do século XX. A
Rússia, que joga em um grupo muito maior e mais importante, teve que abandonar
suas intenções de engolir seus vizinhos. Nenhum deles, no entanto, sofreu uma
desonrosa humilhação como a de Cuba, que foi forçada a infligir a si mesma, a
aproximação do país de Fidel e Raul Castro com o chamado "Império
Capitalista", que eles juraram lutar contra, sem dar trégua, até vê-lo
sucumbir, até a sua morte. Aproximar-se dos Estados Unidos e humildemente pedir
para ser autorizada a entrar na esfera da influência econômica americana,
abrindo-se a investidores americanos, pedindo para ser autorizada a vender seus
produtos nos mercados norte-americanos, pedindo para ser autorizada a receber
mais remessas de dólares enviados pelos cubanos que vivem nos Estados Unidos
para suas famílias em Cuba e implorando pelo fim do embargo, isso é muita
humilhação.
A queda drástica nos preços do petróleo foi o necessário
para empurrar Cuba em direção ao capitalismo, para acabar com toda sua retórica
de guerra de classe e da necessidade de revoluções sangrentas. Isto não é
surpreendente. Não é a primeira vez que Cuba se encontra desamparada, à procura
de algum subsídio de outro país, porque não pode subsistir com seus próprios
meios. Fidel Castro e o Partido Comunista destruíram a economia cubana logo
depois que realizaram a revolução em 1950. Desde então, Cuba tem necessidade
patrocinadores.
Isto não parecia ser um problema naquele momento, porque
para a União Soviética era mais do que um prazer, se oferecer para ajudar na
sobrevivência da ilha carente, em troca de cinco vantagens que Castro poderia
oferecer: a presença militar soviética a 240 milhas da Costa Leste americana; A
disposição de Castro de atuar como um aliado militar, e em nome da União
Soviética, enviar seu exército e mercenários para lugares distantes como
Angola; uma base física para ameaçar os Estados Unidos na América Latina; o
carisma e a retórica de Castro e a admiração dos povos latinos por seus revolucionários;
e, por apenas um curto período de tempo, uma plataforma para lançar mísseis
nucleares contra os Estados Unidos.
Desta forma, a ilha sobreviveu durante algumas décadas,
porque a União Soviética passou a subsidiar com petróleo barato, que boa parte
era vendida por Cuba nos mercados internacionais, retendo o lucro, e com
dinheiro.
No entanto, no início de 1990 a União Soviética acabou e
seus herdeiros recusaram-se continuar a pagar para a manutenção de Cuba. A
magnitude do desastre pode ser apreciada, pela queda da economia cubana,
estima-se que o Produto Interno Bruto do país per capita caiu em 36% entre 1989
e 1993. Os Castros forçaram os cubanos, para ajustar a economia, a apertarem
ainda mais os cintos já apertados. Para forçar os cubanos a um ajuste tão
drástico, Fidel Castro agravou drasticamente a repressão.
Cuba claudicou por alguns anos, sobrevivendo com alguma
ajuda de amigos europeus. Em seguida, a sorte favoreceu Cuba na figura de Hugo
Chávez, que queria fazer uma revolução na Venezuela. Cuba tinha uma vantagem
importante e decisiva para ele, através dos anos de servidão Soviética, os
cubanos tinham aprendido algumas técnicas que ele poderia usar: as habilidades
consideráveis para espionar, desinformar e conspirar que tinham adquirido da
KGB; o seu conhecimento dos ambientes políticos e militares na América Latina;
suas conexões com os revolucionários nesses países; a sua capacidade de se
envolver nos projetos sócio-políticos da região, através de assistentes sociais
e conselheiros políticos; e suas habilidades políticas consideráveis. Ou seja,
o Partido Comunista de Cuba tornara-se um empreiteiro revolucionário de alta
potência, com um território estrategicamente localizado e todas as vantagens
que um regime autoritário pode proporcionar.
Chávez fechou um acordo com os comunistas cubanos. Em troca
de um enorme subsídio anual, os cubanos preparariam para a Venezuela um projeto
completo das ações revolucionárias e estratégicas.
Os valores precisos que a Venezuela transferiu para Cuba, ao
longo dos anos, não são conhecidos atualmente. De acordo com Carmelo Mesa-Lago,
um eminente professor da Universidade de Pittsburgh, durante os anos de
expansão da produção de petróleo venezuelana, a Venezuela teria abastecido com
até US$ 9,4 bilhões, por ano, a economia cubana. Fê-lo através de diversos
canais, incluindo a venda de petróleo a preços altamente subsidiados, a
provisão de fundos para projetos de investimento específicos e a contratação de
centenas de profissionais de saúde, segurança e outras especialidades que
trabalham até hoje na Venezuela.
Assim, a Venezuela deu emprego a pessoas que estariam
desempregadas em Cuba. Uma vez que os trabalhadores recebem apenas uma pequena
fração das grandes somas que a Venezuela paga por eles (US $ 5,6 bilhões por
ano), a Venezuela também transfere dinheiro diretamente para o governo cubano.
Além disso, a utilidade dos trabalhadores Cubanos é duvidosa. A ideia era usar
esses médicos num projeto de medicina familiar denominado ‘Barrio Adentro’, (chamado
livremente pelos venezuelanos de ‘bairros’) mas, o projeto está falindo.
Informações de dezembro de 2014 estimavam que 80% das clínicas ‘Barrio Adentro’
foram abandonadas.
Mas os cubanos fizeram muitas outras coisas para Chávez,
apoiando todas as suas iniciativas em fóruns internacionais e elogiando-o em
todas as ocasiões disponível. Na verdade, Chávez tinha comprado todo o país,
que trabalhava para ele.
Com o tempo, no entanto, algo de extraordinário, embora
previsível, aconteceu. Para tirar proveito de suas habilidades, Chávez permitiu
que os cubanos penetrassem profundamente nos círculos mais íntimos do poder na
Venezuela. Este foi um movimento perigoso. Após a morte de Chávez tornou-se
evidente que o poder efetivo da Venezuela havia sido transferido para Cuba. Foi
lá onde as principais decisões foram tomadas. A presença política cubana na
Venezuela tornou-se avassaladora. Cuba se tornou a liderança parasitária da
Venezuela, utilizando o seu poder político e ideológico para extrair recursos
de seu hospedeiro.
A Venezuela passou a sustentar Cuba, mas à falência
venezuelana, está deixando Cuba impotente e arruinada novamente. A retirada do
apoio da Venezuela irá forçar novo ajuste na renda per capita, pelo menos, tão
grave como o dos anos 90.
Hoje, com as mudanças políticas que estão acontecendo na
América Latina, Argentina e Brasil caminhando em direção à direita, Evo Morales
ariscado a não poder continuar no poder. Cuba não pode contar mais com o
auxílio financeiro desses países para manter sua utopia comunista.
Assim, de forma realista, para enfrentar a fome que se
anuncia, Cuba terá que encontrar outra saída. Entrar no campo econômico
americano é a única opção dos cubanos. Renovar as relações diplomáticas foi o
primeiro passo para entrar neste novo caminho.
Os Estados Unidos, no entanto, não irá fornecer o apoio que
Cuba tem obtido de outros países. As habilidades que Cuba desenvolveu, servem
apenas para países que querem fazer revoluções, Na verdade, Cuba não tem nada
para oferecer aos Estados Unidos. Para sobreviver, Cuba terá que fazer algo que
o Partido Comunista, como todos os parasitas, não gostam de fazer, trabalhar,
produzir algo. Para fazer isso, Cuba terá de reformar o seu sistema político.
Como a Rússia, a China, o Vietnã e tantos outros países ex-comunistas, Cuba vai
ter que engolir seu orgulho e reintroduzir o capitalismo. A reconciliação com
os Estados Unidos é parte deste processo, que já começou.
A decisão de Cuba é um passo irreversível em sua história.
Não será capaz de voltar ao seu papel de contratada parasitária de revoluções.
Claro, agora não há nenhum país que iria levá-la como professora ou
administradora de métodos repressivos e de ações efervescentes antiamericanas.
Todos os seus potenciais clientes - como Kirchner na Argentina, Dilma no Brasil,
Morales na Bolívia, Correa no Equador, Ortega na Nicarágua - estão fora do
poder, falidos ou em processo de assim se tornar. Todos eles dependem de
exportações de petróleo e de commodities, e estão lutando para adaptar as suas
economias, cada vez mais fracas, a um novo mundo de preços baixos de
commodities.
Mas, mais fundamentalmente, os líderes cubanos perderam o
gramou de revolucionários, irremediavelmente, porque eles deram às mãos a
violência, a tortura e a opressão, para eliminar os inimigos que eles tinham
que matar para garantir o progresso das massas em direção ao paraíso comunista.
Eles basearam suas ações em plantar o ódio contra os Estados
Unidos e o capitalismo, para eles a encarnação do mal. Eles previram e apregoaram
a queda do capitalismo inúmeras vezes ao longo de décadas. Eles persuadiram
movimentos de esquerda em toda a América Latina a rejeitar a formação de blocos
comerciais com os Estados Unidos, dizendo que a formação desses blocos
consolidaria o ‘Império Capitalista’.
Agora, como podem dizer a essas mesmas pessoas que o
capitalismo e os Estados Unidos não caíram e, em vez disso, aconteceu o colapso
e o fim da União Soviética e de todos os países comunistas, com exceção de Cuba
e da Coréia do Norte na década de 1990, e agora Cuba se aproxima do colapso
também? Como explicar que todas as coisas que eles disseram sobre o venturoso
caminho do comunismo para o futuro, não aconteceram e, possivelmente, jamais
acontecerão? O que dizer do fim da União
Soviética, motor do comunismo mundial, da situação tétrica da Venezuela de
Chávez e Maduro? Pior ainda, como eles vão dizer, a seus clientes
revolucionários, que não só o ‘Império Capitalista’ não caiu, mas que Cuba quer
se juntar a ele, embora ela não esteja usando o termo ‘Império’ desta vez?
Assim, a renovação das relações diplomáticas com os Estados
Unidos e o simples fato de que ele está estudando o fim do embargo a Cuba,
colabora para o fim do carisma revolucionário cubano. Com seu carisma
revolucionário desaparecendo, Cuba está perdendo a vantagem que tinha que ser
gerente parasitária de Movimentos Revolucionários Comunistas.
Com o tempo, os clientes revolucionários de Cuba e seus
movimentos estão desaparecendo. Cuba já não tem um país para sustentá-la e
ajudá-la em suas lutas diárias para sobreviver. Eles já não são mais o símbolo
da resistência comunista vitoriosa. Cuba não tem nem uma ideologia para lhe
escorar. Hoje os líderes revolucionários cubanos, têm apenas o gosto amargo na
boca, que lhes foi deixado por uma ideologia fracassada e perdedora.
É adequado lembrar que isso que está acontecendo, é a
conclusão de um processo que começou no final de 1980, com o declínio e queda
da União Soviética, e que já deveria ter terminado há muito tempo, não fosse a
intervenção de Hugo Chávez. Cuba comunista pertencia ao antigo século XX,
século das guerras de classes e de caudilhos revolucionários extravagantes
prometendo liberdade e progresso, e causando repressão e morte. Esse século tinha
que terminar, esse ciclo tinha que se fechar, e se fechou.
Espero seja o fim de uma era decadente da América Latina, que
os novos caminhos que estão se abrindo, com o fim do comunismo e da má gestão
econômica desses caudilhos bolivarianos, possa trazer o desenvolvimento e a
liberdade.
Na verdade, o sofrido povo cubano é que será beneficiado
pela aproximação de Cuba, pois a maioria da população nos Estados Unidos, que
estão longe ou perto da Flórida, não vai sentir qualquer mudança em suas vidas,
exceto, talvez, experimentando o prazer de legalmente fumar um charuto cubano.
Eduardo G. Souza
Fontes:
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