Em 9 de novembro de 1989, 7 dias antes do meu aniversário, milhares
de alemães extremamente felizes derrubaram o símbolo mais marcante da divisão da
Europa – ‘o Muro de Berlim’.
Por duas gerações, o muro era a representação física da
Cortina de Ferro, e da separação de um povo. E aqueles que ousavam
ultrapassá-lo colocavam em risco suas próprias vidas, os guardas de fronteira
da Alemanha Oriental tinham ordens firmes de atirar para matar, aqueles que
tentassem escapar. O Muro representava a divisão da Europa, e a sua queda,
podemos aceitar, como o fim da Guerra Fria.
Na Casa Branca, o presidente George W Bush e seu conselheiro
de segurança nacional, Brent Scowcroft, observavam a cena concentrados em uma
televisão, consciente da importância histórica do momento e dos desafios para a
política externa americana estaria por enfrentar.
Nem mesmo o observador mais otimista do discurso do
presidente Ronald Reagan, proferido em Berlim, em 1987, convidando pelo Secretário
Geral do Partido Comunista Soviético, Mikhail Gorbachev, teria imaginado que
dois anos mais tarde, o "muro de Berlim seria derrubado" e os regimes
comunistas da Europa Oriental entrariam em colapso como peças de dominó. Em
1990, os antigos líderes comunistas estavam fora do poder, foram realizadas
eleições livres e a Alemanha estava unida novamente.
O colapso dos regimes não aconteceu de forma pacífica. Os tanques
soviéticos que haviam esmagado manifestações em Berlim Oriental, em junho de
1953, na Hungria, em 1956, e novamente na Checoslováquia em 1968. Os militares
soviéticos estavam intimamente envolvidos no planejamento da lei marcial decretada
na Polônia em 1980, e as tropas soviéticas permaneceram estacionados em toda a
Europa Oriental, tanto para garantia da segurança soviética, como um lembrete
sinistro para os povos do Leste Europeu, da dominação soviética sobre seus
países.
A forte pressão da administração Reagan, em apoio às
aspirações de liberdade política dos cidadãos europeus e soviéticos do Leste Europeu,
foi importante para que, em 1985, um novo tipo de liderança ascendesse na União
Soviética. As políticas de Perestroika (reestruturação) e Glasnost
(transparência) de Mikhail Gorbachev legitimaram ainda mais os apelos populares
para uma reforma dentro da Rússia. Gorbachev também deixou claro - primeiro
secretamente para os líderes do Leste Europeu, e depois publicamente - que a
União Soviética tinha abandonado a política de intervenção militar em apoio aos
regimes comunistas (A Doutrina Brejnev).
Em 6 de fevereiro de 1989, o Governo Socialista da Polônia abriu
oficialmente, em Varsóvia, negociações com os membros da resistência sindical ‘Solidariedade’.
O movimento sindical Solidariedade foi formado em agosto de 1980, após uma
série de greves que paralisaram a economia polonesa, em 1981 foi decretada, sob
o comando soviético, a lei marcial que levou a organização para a
clandestinidade. O movimento sindical Solidariedade somente sobreviveu devido
ao apoio das organizações trabalhistas ocidentais e dos grupos de emigrantes
poloneses residentes na Europa e nos Estados Unidos. Os resultados das
"Mesas Redondas", foram gravados em um documento assinado pelo
governo polonês e os representantes do Solidariedade em 4 de abril de 1989. O
tratado incluía eleições livres para 35% do Parlamento, eleições livres para o
Senado recém-criado, um novo gabinete, e o reconhecimento da solidariedade como
um partido político. Em 4 de junho de 1989, como resultado dos tanques chineses
haverem esmagado os protestos estudantis em Pequim, o Solidariedade alcançou
uma vitória eleitoral esmagadora. Em 24 de agosto, quase dez anos após o
Solidariedade surgir em cena, Tadeusz Mazowiecki tornou-se o primeiro não
comunista primeiro-ministro em um país na Europa Oriental.
Na Hungria, mudanças drásticas estavam igualmente em curso.
O governo, que já era o mais liberal dos governos comunistas, permitiu
associação e reunião dos cidadãos, e ordenou a abertura das fronteiras do país
com o Ocidente. A abertura das fronteiras criou uma estrada para um número cada
vez maior de alemães orientais, escaparem para o ocidente. O Partido Comunista
Húngaro perdeu seu líder de longa data, Imre Nagy, o líder comunista da
Revolução Húngara de 1956, quando em 4 de novembro, o Exército Vermelho invadiu
a Hungria e derrotou rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20.000
pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e
posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético
János Kádár. De início, János Kádár promoveu a perseguição dos revolucionários:
21.600 presos, 13.000 internados, 400 mortos. Na década de 60, porém, com a
frase de efeito "quem não está contra nós, está conosco", declarou
uma anistia geral, reprimiu gradualmente alguns excessos da polícia secreta e
efetuou reformas liberais na economia e na cultura, de modo a tentar superar a
hostilidade popular contra si próprio e o regime. Em 1988, Kádár foi alijado do
cargo de secretário-geral do Partido Comunista e o dirigente reformador
comunista Imre Pozsgay foi admitido no Politburo. No mesmo ano, o parlamento
aprovou um "pacote democrático", que incluía pluralismo sindical;
liberdade de associação, de reunião e de imprensa; uma nova lei eleitoral; e
uma revisão radical da Constituição. Em 23 de Outubro, dez meses após o início
das reformas políticas, a Hungria adotou uma nova constituição que permite um
sistema multipartidário e eleições diretas.
O colapso econômico do regime comunista da Alemanha Oriental
levou um número crescente de alemães orientais tentarem fugir para o Ocidente.
Milhares buscaram refúgio em embaixadas da Alemanha Ocidental em outros países
comunistas, eventualmente, forçando o governo a permitir-lhes a emigrar via
trens especiais. Ao visitar Berlim Oriental, Gorbachev advertiu a liderança comunista
da Alemanha Oriental da necessidade de reformas políticas, e confidenciou a
seus assessores que o líder da Alemanha Oriental, Erich Honecker, deveria ser
substituído. Duas semanas depois, Honecker foi forçado a renunciar, enquanto
centenas de milhares marcharam em protesto nas principais cidades da Alemanha
Oriental. Em 9 de Novembro de 1989, o mundo assistia pela televisão, o Governo
da Alemanha Oriental anunciar a abertura de todas as fronteiras da Alemanha
Oriental. Em uma reação inesperada do povo, no mesmo dia o ‘Muro de Berlim’
veio abaixo, quando um porta-voz da Alemanha Oriental, obviamente mal informado
ou intencionalmente, disse a repórteres que as novas regras de imigração também
se aplicavam a Berlim.
Antes do final do mês, Helmut Kohl, Chanceler da Alemanha
Ocidental, revelou um plano para a reunificação das duas Alemanhas.
Quando o muro caiu, com ele caíram os temores de uma reação
Soviética, e as peças do dominó começaram a cair em um ritmo acelerado.
Em outubro de 1989, a polícia prendeu centenas de pessoas em
Praga após uma reunião não autorizada; apenas algumas semanas depois, centenas
de milhares se reuniram em Praga para protestar contra o governo. Alexander Dubcek,
o comunista reformista que liderou a Primavera de Praga em 1968, fez sua
aparição pública após mais de duas décadas. Um novo governo, não comunista, assumiu
o país em 5 de Dezembro, e, em 29 de dezembro, Vaclav Havel, um dissidente e famoso
dramaturgo, foi eleito presidente.
Na Bulgária, protestos levaram ao afastamento de Todor
Zhivkov, o líder de longa data do Partido Comunista Búlgaro, e sua substituição
pelo reformista, Petar Mladenov. O novo governo rapidamente anunciou que o
governo iria realizar eleições livres em 1990.
Só na Roménia aconteceram eventos violentos. Nicolae
Ceausescu, um seguidor cada vez mais idiossincrático dos tempos stalinistas, se
recusou fazer quaisquer reformas. Em 17 de dezembro de 1989, em Timisoara, o
exército e a polícia dispararam contra a multidão que protestava contra as
políticas do governo, matando dezenas pessoas. Os protestos se espalharam para
outras cidades, em 21 de dezembro Ceausescu ordenou a repressão violenta das
manifestações, resultando em centenas de mortos. No dia seguinte, Ceausescu foi
forçado a fugir de Bucareste e foi preso por unidades do exército no campo. No
governo interino, liderado pelo reformista Ion Iliescu, Ceausescu e sua mulher
foram julgados, condenados, e executados em 25 de dezembro.
Até o verão de 1990, todos os antigos regimes comunistas da
Europa Oriental foram substituídos por governos democraticamente eleitos. Na
Polónia, Hungria, Alemanha Oriental e Tchecoslováquia, recém-formados partidos
de centro-direita ascenderam ao poder pela primeira vez desde o fim da Segunda
Guerra Mundial. Na Bulgária e na Roménia, comunistas reformadores mantiveram o
controle dos governos, mas novos partidos de centro-direita chegaram aos
Parlamentos e tornaram-se participantes na nova liberdade política. Um projeto
foi criado para a reintegração do Leste Europeu nas estruturas econômicas,
políticas e de segurança ocidentais.
Em 10 de novembro de 1989, Anatoly Chernyaev, assessor de
política externa de Gorbachev, escreveu em seu diário, que a queda do ‘muro de
Berlim’ representou "uma mudança no equilíbrio mundial de forças" e o
fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Eduardo G. Souza
.
Livros indicados:
Antonio Gramsci do Liberalismo ao "comunismo
Crítico"
Autor: Losurdo,
Domenico
Editora: Revan
Esquerdismo, Doença
Infantil do Comunismo
Autor: Lênin, V. I.
Editora: Anita
Garibaldi
Depois da Queda - O
Fracasso do Comunismo e o Futuro do Socialismo
Autor: Blackburn,
Robin
Editora: Paz e
Terra
Cortar o Mal Pela
Raiz! História e Memória do Comunismo na Europa
Autor: Meira, Caio
Editora: Bertrand
Brasil
Utopia do Expurgo - O
que Foi o Comunismo?
Autor: Koenen, Gerd
Editora: Loyola
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