Os recentes acontecimentos violentos em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em outros Estados colocaram em foco novamente a desordem urbana, a
revolta popular e o déficit de policiamento. Até o momento, os comentários de
todo o noticiário se desloca para o aspecto político da questão e tendem a ser
polarizados com o aumento da criminalidade e do uso de drogas, oferecendo
condenações diretas as ações desenvolvidas pelos órgãos de repressão policial ou
tentando explicar as coisas de maneira simplória, colocando todo o peso da
violência na miséria e nas drogas, tem sido por demais fácil pintar uma tela
com matizes carregados nesses fatores, abandonando o cerne da questão. As
condenações às ações das forças policiais se tornaram cada vez mais desagradáveis,
mobilizando toda uma gama de cidadãos, que por motivos políticos, sociais ou
raciais são envolvidos ou estimulados a condenar as ações repressivas para subjugar
indivíduos ou grupos envolvidos em atividades violentas e/ou criminais.
As respostas sugeridas e empregadas para combater a
violência têm se mostrado de uma perturbadora ineficácia contra o estado de
violência na sociedade. A Sociedade, a nos é dito frequentemente, está falida,
está quebrada. Por outro lado, tem havido tentativas para sugerir políticas
governamentais recentes, diretamente dirigidas ou procurando contribuir para o
combate aos acontecimentos violentos recentes. No entanto, os fenômenos sociais
complexos raramente são entendidos como causa-efeito imediatas, primeiro porque
os acontecimentos provaram ser quase impossíveis de se prever, suas causas são
desencadeadas por múltiplos fatores, não facilmente identificáveis, e os
indivíduos envolvidos, muitas vezes, não pertencem aos grupos de risco, tudo isso
deve nos advertir contra qualquer tentativa de explicações fáceis para os
fenômenos de violência.
Profundas desigualdades sociais, tolerância e insensibilidade
social, racismo, corrupção, brandura da legislação, drogas, lenocínio, etc., o
déficit, o despreparo e a desconexão do policiamento, além do medo e desespero
dos indivíduos, sem dúvida, contribuem para a situação em que nos encontramos. Toda
essa situação ainda é agravada pela maneira como grandes comunidades foram
criadas, contra todas as normas urbanas, nasceram e cresceram sem qualquer
urbanização e segurança, ocupando áreas de riscos geológicos ou ecológicos, sem
atendimento as suas necessidades básicas de saneamento, saúde, educação, etc.,
foram entregues a sua própria sorte e subjugadas pelo poder marginal do tráfico
e da criminalidade, o que demonstra, superficialmente, as forças que estão em
jogo.
Sem, ao mesmo tempo, haver uma chamada para a restauração da
lei e da ordem, um combate à inviolabilidade dos direitos civis e de
propriedade, uma posição política de luta contra a pobreza, uma reforma na legislação
criminal, dando condições aos tribunais de punirem rigorosamente os infratores,
uma reforma no sistema prisional, a reformulação, aparelhamento e treinamento das
forças policiais e a defesa e desenvolvimento do status quo de todos os agentes
envolvidos no combate a criminalidade e a violência, não existe outro caminho
para reverter à situação atual.
Sabemos que este texto não irá fornecer todas as respostas, mas
nossa esperança é que ele possa contribuir para abrir caminho a um debate mais
bem abalizado e informado.
Eduardo G. Souza.
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