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O alcoolismo pode ser definido como a perda da liberdade de se abster do álcool.
Também pode ser definido como o consumo de uma quantidade maior do que aquela que pode ser metabolizada pelo organismo (cerca de 3/4 litros de cerveja para uma pessoa de 70 kg).
O alcoolismo é, sem dúvida, um fenômeno social: reuniões de família ou nas empresas quase sempre há consumo de álcool, mas quase 90% da população não se tornar dependente de álcool.
Para a OMS "Alcoólicos são os bebedores excessivos cuja dependência do álcool chegou a um estágio onde provoca significativos transtornos mentais, e prejudica as suas relações com outras pessoas, seu papel social e profissional normal, ou que apresentam sintomas prodrômicos(1) de tais conseqüências."
Não há uma categoria social em que predomine o uso do álcool: um homem, uma mulher, um operário, um fazendeiro, um professor, um médico, um estudante.
Estima-se que no Brasil cinco milhões de pessoas que usam o álcool apresentem dificuldades médicas, psicológicas e sociais, e que cerca de dois milhões de pessoas sejam dependentes do álcool.
O Álcool e a dependência psíquica.
O álcool altera o psiquismo do indivíduo (ele é um produto “psicotrópico”(2)).
É um objeto de prazer: o prazer no paladar orgânico, o prazer do grupo, a partilha de uma boa garrafa, os encontros amigáveis, a redução da fadiga, a sensação de bem-estar.
O efeito psicotrópico é encontrado em baixas concentrações de álcool, daí os perigos das chamadas taxas menores (<0,80 g) de reflexos e de condução.
O álcool pode reduzir as inibições pessoais, ele levanta as barreiras psicológicas que tanto nos protegem e nos atrapalham. Após a redução das inibições, o controle das ações da pessoa pode não estar mais sob o controle de sua educação ou status social, levando-a a praticar atos mais ou menos intoleráveis na vida social de todos os dias. Com a queda das barreiras, a pessoa é mais facilmente conduzida à prática do ato sexual.
O álcool pode levar à pessoa a irritabilidade, a começar a rir ou chorar, dançar, cantar, a agressividade, etc.
A sociedade, geralmente, é muito tolerante com esse tipo de "beber" e, geralmente, aceita alguns desvios causados pelo álcool. Em casos extremos, até mesmo algumas irregularidades são toleradas se o sujeito aceitar ser submetido à desintoxicação alcoólica.
O álcool provoca alterações do raciocínio e provoca a logorrhea(3), deixa a pessoa eufórica, pode ativar a imaginação, alterando o que pode ser vivido na realidade.
Acima de tudo, o álcool é uma droga estimulante para os portadores de ansiedade e de depressão.
Durante algum tempo, a "amizade com o álcool", que a pessoa em geral partilha com outros, vai cumprir o papel de droga calafetagem para pequenos problemas, pode melhorar a comunicação, reduzindo a tensão psicológica interna, é uma lua de mel entre o sujeito e o álcool. Só que o individuo será cada vez mais dependente do álcool em nível psicológico.
Dependência física do álcool.
O homem naturalmente produz endorfinas(4) quando ele faz coisas que causam prazer.
Em muitas situações de estresse, a busca de produzir endorfinas "artificialmente" pelo organismo, pode levar as drogas, ao tabaco e ao álcool. Em pequenas doses, o álcool é um bom ansiolítico(5).
Ao contrário das drogas, o álcool é uma substância tóxica permitida. O álcool é comumente difundido em nossa sociedade e faz parte da nossa cultura. O acesso é muito fácil (bares, restaurantes, lojas de conveniências, e o preço é relativamente baixo) e a tolerância do grupo é grande com o alcoólico, pois em geral ele faz você rir.
Assim, o álcool nos faz produzir as endorfinas necessárias para a nossa sensação de bem-estar, facilita o relacionamento com os outros, daí as muitas "garrafas" para curtirmos as ocasiões amigáveis.
No entanto, quando o sujeito se torna dependente do álcool (o que é observado em aproximadamente 10% da população), e aumenta gradualmente o consumo, vai sentir os efeitos tóxicos, o que excede o equilíbrio produzindo a ansiedade. Há uma perda de equilíbrio no comportamento social e em resposta o bêbado cria uma série de arengas produzidas pelo álcool e assume uma conduta imprópria. Assim, o sujeito sob o efeito do álcool perde os seus freios comportamentais, perde o controle sobre si mesmo. Ele não pode mais viver sem beber álcool e é obrigado a continuar bebendo para produzir as endorfinas necessárias para sentir-se feliz.
Quando uma pessoa é viciada em álcool, o álcool suprime o sinal de saciedade, a regulação natural que os limites de consumo normal impõem. Pior ainda, o álcool faz com que a necessidade seja mais intensa e induz o aumento da ingestão de doses que se tornam tóxicas.
Porque é que existe uma variedade de reações ao álcool?
Apesar de extensa pesquisa, não sabemos por que algumas pessoas podem ser vítimas de álcool, enquanto outras nunca apresentam dificuldades.
No entanto, os motivos psicológicos, como preocupações financeiras, solidão, desemprego ou desarmonia em família, são na maioria das vezes a causa do abuso e da dependência.
Os "não bebedores" costumam chamá-los de "desculpas". Pois nem todos os seres humanos recorrem ao álcool para se apoiar nesses eventos.
É por causa desses fatos que a desintoxicação do álcool não deve basear-se em um tratamento puramente psicológico, mas em uma determinação objetiva do nível da sua dependência física ao álcool.
(1) Sintoma prodrômico ou pródromo significa, em medicina, o sintoma que antecede uma doença, tal como o mal estar que antecede a gripe, ou a dor de cabeça (cefaléia) que precede o AVC (acidente vascular cerebral), etc.
(2) Droga psicoativa ou substância psicotrópica é a substância química que age principalmente no sistema nervoso central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência.
(3) Logorrhea é um fluxo excessivo de palavras, prolixidade, transtorno de comunicação resultando em loquacidade incoerente.
(4) Endorfina é um neuro-hormônio endógeno (fabricados pelo próprio corpo). As endorfinas são produzidas pela glândula hipófise e pelo hipotálamo durante exercícios vigorosos, excitamento e orgasmo. Os efeitos produzidos pela endorfina são analgésicos e de sensação de bem-estar.
(5) Ansiolíticos (também conhecidos como tranquilizantes) são drogas sintéticas usadas para diminuir a ansiedade e a tensão. Em pequenas doses recomendadas por médicos, não causam problemas a saúde.
Eduardo e Lígia G. Souza.
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