A Revolução dos Bichos
George Orwell
Um verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais
influentes escritores do século XX, “A Revolução dos Bichos” é uma fábula sobre
o poder. Narra a insurreição dos animais de uma fazenda contra seus donos.
Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva
que a dos humanos
Escrita em plena Segunda Guerra Mundial, foi publicada pela
primeira vez no Reino Unido em 1945, depois de ter sido rejeitada por várias
editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a
ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente
na luta contra o eixo nazifascista.
O livro narra uma história de corrupção e traição e recorre
a figuras de animais para retratar as fraquezas humanas e demolir o
"paraíso comunista" proposto pela Rússia na época de Stalin.
A história conta que - sentindo aproximar-se sua hora,
Major, um velho porco, reuniu os animais da fazenda para partilhar seu sonho: “serem
governados por eles próprios, sem a submissão e exploração do homem”.
Ensinou-lhes uma antiga canção, “Bichos da Inglaterra” (Beasts of England), que
resume a filosofia do Animalismo, exaltando a igualdade entre eles e os tempos
prósperos que estavam por vir, deixando os demais animais em êxtase com as
possibilidades.
Porém, Major faleceu três dias depois, então, tomou a frente
do movimento os astutos e jovens porcos Bola-de-Neve e Napoleão, que passaram a
reunir-se clandestinamente a fim de traçar as estratégias da revolução. Certo
dia, Sr. Jones, proprietário da fazenda, descuidou-se com a alimentação dos
animais, fato este que se tornou a gota de água para os bichos. Sob o comando
dos inteligentes porcos, os animais expulsaram os humanos da propriedade que
passaram a chamar de “Fazenda dos Bichos”, e aprenderam os Sete Mandamentos,
que, a princípio, ganharam a seguinte forma:
“1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; 2.
Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou tenha asas, é amigo; 3. Nenhum
animal usará roupas; 4. Nenhum animal dormirá em cama; 5. Nenhum animal beberá
álcool; 6. Nenhum animal matará outro animal; 7. Todos os animais são iguais.”
Os porcos resumiram os mandamentos apenas na máxima
"Quatro pernas bom, duas pernas mau" que passou a ser repetido
constantemente pelas ovelhas.
Os animais tentavam criar uma sociedade utópica, porém Napoleão,
seduzido pelo poder, expulsou Bola-de-Neve da fazenda, alegando sérias
acusações contra o antigo companheiro. Acusações estas que se prolongam durante
toda história, mesmo após o desaparecimento de Bola-de-Neve, na tentativa de
encobrir algo ou mesmo ter alguma explicação sobre os fracassos da revolução,
criando-se um mito em torno do porco que, a partir dali, passou a ser
considerado um traidor.
Napoleão apoderou-se da ideia de Bola-de-Neve de construir
um moinho de vento para gerar energia, e deu início à sua construção. Algum
tempo depois, os porcos começaram a negociar com os agricultores da região, descumprindo
a resolução de não fazer contato com os humanos, apontando essa ideia como mais
uma invenção de Bola-de-Neve. Os porcos passaram a viver na antiga casa de Sr.
Jones e começaram a modificar os mandamentos que estavam na porta do celeiro:
“4. Nenhum animal dormirá em cama ‘com lençóis’; 5. Nenhum
animal beberá álcool ‘em excesso’; 6. Nenhum animal matará outro animal ‘sem
motivo’; 7. Todos os animais são iguais, ‘mas alguns são mais iguais que os
outros’.”
Napoleão foi declarado líder por unanimidade, e estabeleceu
uma ditadura tão corrupta quanto a sociedade de humanos. As condições de
trabalho degradaram-se, os animais sofrem um novo ataque humano e começam a
lembrar-se que na época em que estavam submissos ao Sr. Jones era melhor, o
slogan das ovelhas foi modificado passando a ser: “Quatro pernas bom, duas
pernas melhor!”, pois agora os porcos andavam sobre as duas patas traseiras.
Napoleão, os outros porcos e os agricultores da vizinhança
celebram, em conjunto, um acordo sobre a produtividade da “Fazenda dos Animais”.
Os outros animais passaram a trabalhar arduamente em troca de míseras rações.
No final, os animais, olhavam para a casa, antes ocupada
pelo Sr. Jones e agora viam os porcos vivendo em considerável luxo em relação
aos demais animais, E o pior, viam Napoleão e outros suínos jogando carteado
com Frederick e Pilkington, donos das fazendas vizinhas, e celebrando a
prosperidade que os seus acordos proporcionavam às suas fazendas. Numa visão
confusa, os animais já não conseguiam distinguir os porcos dos homens. mas eram
sempre lembrados da “proclamada liberdade”, por sábios discursos suínos,
principalmente os proferidos por Garganta, um porco com especial capacidade
persuasiva.
Assiste-se assim a um escárnio grotesco da sociedade humana.
De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão
seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos -
expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História
- mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que
causaram constrangimento na época de sua publicação levaram “A revolução dos
bichos” a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma
ideológica contra o comunismo.
Depois das profundas transformações políticas que mudaram a
fisionomia do planeta nas últimas décadas, a obra-prima de Orwell pode ser
vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de
escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas
humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É
irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha
recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política
que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens.
O livro extrapola a questão dos desvios que a revolução
russa tomou. Poderíamos reconhecer diversos ditadores nas atitudes do
personagem Napoleão: Fidel Castro em Cuba; Augusto Pinochet no Chile; Hugo
Chávez na Venezuela; Slobodan Milosevic na Sérvia e na Iugoslávia; Mao-Tse-Tung
na China; Idi Amin Dada em Uganda; Kim Il-sung na Coreia do Norte ou Pol Pot (Saloth
Sar), no Camboja. A ficha criminal da humanidade está aí para provar. A história
da humanidade está cheia de casos de abuso de poder. “O poder corrompe. O poder
absoluto corrompe absolutamente”, Lord Acton (John Emerich Edward
Dalberg-Acton, 1º barão Acton, historiador britânico).
Em nosso caso em particular, os porcos não contam com a
ajuda dos cães, pois além de não os cooptar, como aconteceu em quase todos os
casos, os porcos ainda os hostilizam. Isso garantiu, de certa forma, que os
porcos não dominassem totalmente a “Fazenda dos Animais”, instituindo um regime
totalmente totalitário, como aconteceu nos casos acima mencionados. Quem quiser
saber melhor sobre o papel dos cães, é só ler o livro!
Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às
minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A
revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias:
a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve
talvez em Jonathan Swift (um escritor anglo-irlandês, panfletário político,
poeta e clérigo) seu representante máximo.
É preciso que esta fábula moderna continue contribuindo para
alertar a humanidade dos perigos da ascensão de certos líderes com discursos
demagógicos, cujos conteúdos disfarçam intenções ulteriores e cujas promessas de
prosperidade e liberdade costumam favorecer apenas uma minoria. George Orwell
nos ensina, enfim, a reconhecer ‘porcos’ disfarçados de ‘homens’.
O livro é encontrado na integra em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/animaisf.pdf
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