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Eduardo G. Souza e Lígia G. Souza.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS





A Revolução dos Bichos 
George Orwell

Um verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século XX, “A Revolução dos Bichos” é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma fazenda contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos
Escrita em plena Segunda Guerra Mundial, foi publicada pela primeira vez no Reino Unido em 1945, depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.
O livro narra uma história de corrupção e traição e recorre a figuras de animais para retratar as fraquezas humanas e demolir o "paraíso comunista" proposto pela Rússia na época de Stalin.
A história conta que - sentindo aproximar-se sua hora, Major, um velho porco, reuniu os animais da fazenda para partilhar seu sonho: “serem governados por eles próprios, sem a submissão e exploração do homem”. Ensinou-lhes uma antiga canção, “Bichos da Inglaterra” (Beasts of England), que resume a filosofia do Animalismo, exaltando a igualdade entre eles e os tempos prósperos que estavam por vir, deixando os demais animais em êxtase com as possibilidades.
Porém, Major faleceu três dias depois, então, tomou a frente do movimento os astutos e jovens porcos Bola-de-Neve e Napoleão, que passaram a reunir-se clandestinamente a fim de traçar as estratégias da revolução. Certo dia, Sr. Jones, proprietário da fazenda, descuidou-se com a alimentação dos animais, fato este que se tornou a gota de água para os bichos. Sob o comando dos inteligentes porcos, os animais expulsaram os humanos da propriedade que passaram a chamar de “Fazenda dos Bichos”, e aprenderam os Sete Mandamentos, que, a princípio, ganharam a seguinte forma:
“1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; 2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou tenha asas, é amigo; 3. Nenhum animal usará roupas; 4. Nenhum animal dormirá em cama; 5. Nenhum animal beberá álcool; 6. Nenhum animal matará outro animal; 7. Todos os animais são iguais.”
Os porcos resumiram os mandamentos apenas na máxima "Quatro pernas bom, duas pernas mau" que passou a ser repetido constantemente pelas ovelhas.
Os animais tentavam criar uma sociedade utópica, porém Napoleão, seduzido pelo poder, expulsou Bola-de-Neve da fazenda, alegando sérias acusações contra o antigo companheiro. Acusações estas que se prolongam durante toda história, mesmo após o desaparecimento de Bola-de-Neve, na tentativa de encobrir algo ou mesmo ter alguma explicação sobre os fracassos da revolução, criando-se um mito em torno do porco que, a partir dali, passou a ser considerado um traidor.
Napoleão apoderou-se da ideia de Bola-de-Neve de construir um moinho de vento para gerar energia, e deu início à sua construção. Algum tempo depois, os porcos começaram a negociar com os agricultores da região, descumprindo a resolução de não fazer contato com os humanos, apontando essa ideia como mais uma invenção de Bola-de-Neve. Os porcos passaram a viver na antiga casa de Sr. Jones e começaram a modificar os mandamentos que estavam na porta do celeiro:
“4. Nenhum animal dormirá em cama ‘com lençóis’; 5. Nenhum animal beberá álcool ‘em excesso’; 6. Nenhum animal matará outro animal ‘sem motivo’; 7. Todos os animais são iguais, ‘mas alguns são mais iguais que os outros’.”
Napoleão foi declarado líder por unanimidade, e estabeleceu uma ditadura tão corrupta quanto a sociedade de humanos. As condições de trabalho degradaram-se, os animais sofrem um novo ataque humano e começam a lembrar-se que na época em que estavam submissos ao Sr. Jones era melhor, o slogan das ovelhas foi modificado passando a ser: “Quatro pernas bom, duas pernas melhor!”, pois agora os porcos andavam sobre as duas patas traseiras.
Napoleão, os outros porcos e os agricultores da vizinhança celebram, em conjunto, um acordo sobre a produtividade da “Fazenda dos Animais”. Os outros animais passaram a trabalhar arduamente em troca de míseras rações.
No final, os animais, olhavam para a casa, antes ocupada pelo Sr. Jones e agora viam os porcos vivendo em considerável luxo em relação aos demais animais, E o pior, viam Napoleão e outros suínos jogando carteado com Frederick e Pilkington, donos das fazendas vizinhas, e celebrando a prosperidade que os seus acordos proporcionavam às suas fazendas. Numa visão confusa, os animais já não conseguiam distinguir os porcos dos homens. mas eram sempre lembrados da “proclamada liberdade”, por sábios discursos suínos, principalmente os proferidos por Garganta, um porco com especial capacidade persuasiva.
Assiste-se assim a um escárnio grotesco da sociedade humana.
De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram “A revolução dos bichos” a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo.
Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens.
O livro extrapola a questão dos desvios que a revolução russa tomou. Poderíamos reconhecer diversos ditadores nas atitudes do personagem Napoleão: Fidel Castro em Cuba; Augusto Pinochet no Chile; Hugo Chávez na Venezuela; Slobodan Milosevic na Sérvia e na Iugoslávia; Mao-Tse-Tung na China; Idi Amin Dada em Uganda; Kim Il-sung na Coreia do Norte ou Pol Pot (Saloth Sar), no Camboja. A ficha criminal da humanidade está aí para provar. A história da humanidade está cheia de casos de abuso de poder. “O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente”, Lord Acton (John Emerich Edward Dalberg-Acton, 1º barão Acton, historiador britânico).  
Em nosso caso em particular, os porcos não contam com a ajuda dos cães, pois além de não os cooptar, como aconteceu em quase todos os casos, os porcos ainda os hostilizam. Isso garantiu, de certa forma, que os porcos não dominassem totalmente a “Fazenda dos Animais”, instituindo um regime totalmente totalitário, como aconteceu nos casos acima mencionados. Quem quiser saber melhor sobre o papel dos cães, é só ler o livro!
Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift (um escritor anglo-irlandês, panfletário político, poeta e clérigo) seu representante máximo.
É preciso que esta fábula moderna continue contribuindo para alertar a humanidade dos perigos da ascensão de certos líderes com discursos demagógicos, cujos conteúdos disfarçam intenções ulteriores e cujas promessas de prosperidade e liberdade costumam favorecer apenas uma minoria. George Orwell nos ensina, enfim, a reconhecer ‘porcos’ disfarçados de ‘homens’.
O livro é encontrado na integra em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/animaisf.pdf

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