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Eu não sou contra as religiões. Ao contrário, aceito que
elas são uma necessidade para determinadas pessoas e para a sociedade. A
religião é um freio, seus dogmas conformam o comportamento dos homens e das
sociedades.
É óbvio que existem as Leis criadas pela sociedade para
regular o comportamento dos indivíduos e dos grupos sociais, mas existem
pessoas que por ignorância não têm conhecimento delas, ou muitas vezes as
desprezam e desrespeitam intencionalmente ou por desídia. Alguns acreditam que
não serão alcançados por elas ou que poderão driblá-las, usando sua posição e
poder social, ou o seu dinheiro. Alguns até conseguem!
Mas, as religiões apresentam seus dogmas cujo cumprimento
irá determinar a salvação ou destruição do ser não material, céu ou inferno é o
resultado do comportamento do indivíduo frente às determinações divinas
codificadas por sua religião. E não adianta tentar enganar ou subornar a
divindade, pois tudo que o Ser material faz é devidamente registrado, sem que
haja falhas ou erros na gravação. Não tem como enganar, está tudo filmado e
gravado em HDMax. Isso faz com que algumas pessoas, mesmo desprezando ou não
conhecendo as Leis humanas, se comportem de acordo com os princípios e normas traçados
e codificados pela sua religião.
Mas, todos os indivíduos necessitam da religião para
conduzir seu comportamento social? Existem duas formas de conformação do
comportamento, a assimilação e a acomodação. Quando você vive de acordo com
princípios que você acredita sejam certos e indispensáveis para a vida social,
você assimilou os valores indispensáveis para a felicidade e a paz social. Quando
você não entendeu ou aceitou esses valores, mas mantém sua conduta dentro de
normas estabelecidas pelas Leis (valores sociais) ou Mores (valores religiosos
em sua maioria), mesmo não os entendendo ou aceitando, mas por medo de ser
punido, então você está acomodando seu comportamento.
Assim, para alguns homens as Leis, Mores e Folkways são
apenas balizadores de seu comportamento, pois eles moldam seu caráter por
valores que transcendem essas normas, eles vivem por valores muito mais rígidos
que os sociais, eles vivem pelas normas do espírito, sua vida é moldada por
valores não físicos ou morais, mas por um sentimento de comunhão com Deus. Já
outros não alcançaram ainda essa fase, então precisam de referências, de
padrões comportamentais, e esses padrões são estabelecidos também pelas
religiões.
Então, acredito, que se você precisa do conforto e do apoio
de uma religião, deve segui-la, deve abraçar sua fé e procurar ser o mais fiel
possível aos seus princípios e dogmas. Mas, se você não precisa dessa comunhão
com um grupo religioso, se você não precisa do consolo e do conforto de uma
religião, se você acredita que pode viver em comunhão com Deus, sem precisar de
um templo físico, de um paradigma, dos dogmas ou de alguém que oriente sua fé,
então viva sua fé e seja feliz.
O que precisamos entender e aceitar, é que todos são
diferentes, como os dedos das mãos, cada homem é diferente de qualquer outro
homem. Então, tenho que aceitar que o que é bom e certo para mim, pode não ser,
e certamente não será, para outras pessoas. Tenho que conviver e respeitar o
que os outros pensam e acreditam.
Porque tenho que tentar impor aos outros minha fé? Eu
acredito que minha crença é verdadeira. Mas por quê? Há porque foi Deus que
falou ao profeta ou porque Cristo disse assim. Então, vamos pensar. Nascemos em
uma civilização latino-americana, em nossa sociedade a grande maioria professam
a fé cristã, desde bem pequenos somos ensinados e doutrinados a rezar ou orar
(ai já começam as divergências ridículas, pois os dois vocábulos são sinônimo,
e possuem apenas um valor de comunicação material, mais vamos em frente...) para
o Cristo, seus discípulos e santos (aqui também temos divergências, os santos
serão aceitos ou desprezados, dependendo da orientação da religião de nossos
familiares), depois de acordo com a religião de nossa família recebemos as
primeiras lições sobre os princípios e dogmas de uma determinada religião.
Agora imaginemos que em vez de nascer no Brasil tivéssemos nascido no Irã, bem,
logo de início seriamos ensinados e doutrinados a orar a Ala, e seriamos
educados e doutrinados pelos princípios e dogmas codificados por Maomé o
profeta do Islã.
Os princípios cristãos foram codificados por Moises, que
recebeu a Lei de Jeová, que depois foi ratificada pelo próprio Cristo, que
disse não vir abolir a Lei, mas cumpri-la. Os princípios islamitas foram
codificados por Maomé, o profeta de Ala, no Corão. Então, os verdadeiros
princípios e dogmas de Deus estão na Torá ou no Corão? Quem afinal é o
verdadeiro profeta de Deus? Moises ou Maomé? Qual o verdadeiro Deus? Jeová ou
Ala? A resposta será de acordo com a fé, a educação, a religião, a etnia e sua
origem geográfica, sim, dependendo dessas variáveis, você escolherá um ou
outro. Vejam, parem, pensem, façam uma reflexão e analisem... Essas variáveis
são educacionais e materiais. E elas serão também os fatores que determinarão a
aceitação e a prática de todas as outras religiões.
Nós somos, em grande parte, fruto do meio em que nascemos e
vivemos, o nosso caráter, a personalidade, as crenças e os valores são forjados
pelo grupo social em que nascemos, crescemos e vivemos. Assim, não nascemos
Cristãos, Muçulmanos, Budistas, Espíritas, Umbandistas, etc., nascemos puros,
depois somos educados e catequisados por uma religião, alguns seguem essa
religião por toda vida, outros trocam uma ou algumas vezes de religião, outros
chegam a um momento em suas vidas que preferem experimentar a fé sem uma
religião, preferem alcançar Deus sem intermediação de qualquer religião e
finalmente existem aqueles que se desiludem totalmente, que perdem totalmente a
comunhão com a Divindade, e por vários motivos passam a negar a existência de qualquer
Divindade!
Mas, porque de todo esse texto? Qual o objetivo? Bem, o que
pretendemos apresentar não é uma resposta. Apenas procuramos pensar um pouco
como somos prepotentes frente a Deus. Primeiro queremos dar a Deus valores e
sentimentos que são puramente humanos. Depois nos colocamos como o povo
escolhido por ele, como se Deus, que criou tudo e todos, separaria apenas
alguns, dependendo da etnia, da religião professada e de acreditar nele,
variáveis materiais e questionáveis, pois até acreditar nele é relativa,
considerando que todos acreditam em seu Deus, ou não? E novamente nos
defrontamos com uma característica humana, meus amigos para cá e os outros para
lá (Deus faz discriminação? Como nós fazemos!). E, finalmente, pensar em quanto
somos fanáticos e intolerantes, em toda a história da humanidade, como em nome
de um Deus perseguimos, menosprezamos, ofendemos, separamos, até agredimos e
matamos os nossos semelhantes que como nós tinham sua fé, sua vida, seus
valores e sua religião. Para impor o nosso Deus, somos capazes de qualquer
coisa, até tirar a vida de um Irmão, sim irmão pois somos todos criaturas de um
único Criador, que Nós determinamos ser o Nosso, e não o Criador de tudo e de
todos.
Até quando vamos usar Deus para justificar nossas idiossincrasias
e nossas falhas? Até quando vamos fazer do Criador um Ser Material e Humano?
Até quando vamos conceber um Deus com nossos sentimentos, emoções, valores e
falhas? Até quando?
Eduardo G. Souza.
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